Na coluna de semana passada, intitulada ‘Turismo é locomotiva’, defendi a tese de que Turismo&Viagens deixou de ser há muito tempo um “setor da economia” ou até mesmo um “penduricalho” do setor de Serviços, para se transformar numa dimensão econômica que propulsiona a indústria, o comércio e até mesmo o agronegócio – este aliás, cujo potencial imenso no país, tão grande quanto o da atividade turística, foi desenvolvido internacionalmente, enquanto o Brasil permanece deitado em berço esplêndido de ser “o maior potencial turístico do planeta”.

Antes da pandemia os brasileiros não tinham ideia da importância e da dimensão de Turismo&Viagens como gerador de empregos e renda para milhões de famílias e muito menos como potencial propulsor da economia. Além de cada um de nós ter sentido, com o isolamento social, todo prejuízo pessoal de ficar sem viajar, conhecer outros lugares e pessoas, o Brasil foi surpreendido com a conta da pandemia depois que paralisaram aviões, hotéis, bares, restaurantes, parques, praias, cidades históricas, museus – enfim, todos os equipamentos do turismo.

De acordo com o último levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) essa conta é de quase R$ 183 bilhões. O tombo na atividade turística levou ao fechamento de 446 mil empregos formais – imaginem os informais – e o faturamento real do turismo cairá 37,2% este ano, também de acordo com a CNC e a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE. Em São Paulo, onde dirijo a Secretaria estadual de Turismo, o tombo foi de R$ 65 bilhões, e no Rio R$ 26 bilhões. Mesmo assim, o turismo vem se recuperando mês a mês, com uma alta acumulada de 36,1% em maio, junho e julho, que infelizmente não consegue cobrir ainda a queda de 68,1 em março e abril.

Para se recuperar plenamente, dar a volta por cima e cumprir seu destino de alavanca da economia brasileira, Turismo&Negócios não pode continuar a ser tratado como “vagão” pela gestão e administração pública. Não foi outro o motivo da minha luta pela manutenção do Ministério do Turismo, ameaçado de extinção e absorção por outra pasta, na transição entre os governos Temer e Bolsonaro. E também não foi outro o motivo da minha frustração quando a pasta do Turismo foi extinta em Santa Catarina, no início do governo Carlos Moisés.

Dar ao turismo o tratamento de locomotiva na gestão pública é primordial diante da nova realidade econômica do planeta, do país e do estado. Em São Paulo estamos desenvolvendo um programa de saída da crise e retomada do crescimento econômico, tendo o turismo como um dos alicerces. E isso se deve principalmente ao fato de que o governador João Dória traçou essa estratégia como política de Estado.

Essa política vai fazer com que os repasses para o turismo de São Paulo batam recorde em 2020: até agosto deste ano foram liberados R$ 129,9 milhões para obras e infraestrutura turística para mais de 150 cidades, o maior valor dos últimos seis anos e 28,7% a mais que o mesmo período de 2019. Os repasses de Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur) apoiam a retomada das atividades turísticas do estado, aceleram a economia e geram empregos.

E essa mesma política, implantada desde janeiro de 2019, fazia que com o turismo paulista viesse tendo um crescimento significativo antes da pandemia. O crescimento da contribuição de Turismo&Viagens para o PIB paulista foi de 5,4% no ano passado, quase o dobro da média nacional (3,1%). O mesmo aconteceu com relação aos postos de trabalho: o turismo ocupou 6,9 milhões de pessoas, o equivalente a 7,5% do total dos empregos; já São Paulo ocupou 16,5%, também numa média superior à nacional.

Nesse contexto, a Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo (Setur SP) vinha colecionando vitórias ao implementar estratégias para o desenvolvimento do setor, com a geração de cerca de 50 mil empregos. Privatização de aeroportos; acordos com companhias aéreas para estabelecimento de “stopovers” (parada no meio da viagem, para que o passageiro possa passar um tempo em uma cidade de conexão); aumento de rotas regionais, viabilizado através de descontos de ICMS. Eventos que produziram um aumento significativo no turismo, propiciando mais gastos com viagens, hotelaria, alimentação, artesanatos e todos os demais componentes desse segmento econômico, além de aumentar o valor dos aeroportos a serem privatizados. A pandemia foi um golpe cruel.

Porém, a Setur SP agiu com rapidez. E esta ação, cujas lições e exemplos também podem ser utilizadas aqui na nossa Santa Catarina, será o tema da nossa próxima coluna.