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O SCemPauta teve acesso com exclusividade a uma parte do depoimento da ex-servidora Márcia Geremias Pauli, que foi exonerada após ter sido tornado público o caso Veigamed.
Foram várias horas de depoimento que durou mais de um dia, onde o principal foco foi a dinâmica da compra dos respiradores e, de como era o trabalho na Secretaria de Estado da Saúde visando as aquisições.
Marcia lembrou que a necessidade era de 300 respiradores, porém, a primeira empresa que firmou contrato com o Governo do Estado, a Intelbrás, somente conseguiu garantir a venda de 100, o que foi ratificado no protocolo de intenções assinado pelo governador Carlos Moisés da Silva (PSL), e pelo então secretário de Estado da Saúde, Helton Zeferino.
Questionada sobre a forma que as empresas souberam da necessidade do Estado em adquirir os aparelhos, ela negou que o governo tenha enviado qualquer convite, apenas e-mails para fornecedores já cadastrados. Quanto a Veigamed, Márcia relatou que tomou conhecimento da proposta, através do então chefe da Casa Civil, Douglas Borba, quando foi oferecido o mesmo modelo que seria adquirido com a Intelbrás, o VG70.
Segundo o depoimento, foi o médico Fábio Guasti quem entrou em contato com ela em nome da Veigamed. Ele disse que os respiradores estavam no México e que tentaria trazê-los para o Brasil entre os dias 23 e 24 de março, sendo que a primeira entrega seria feita à Saúde, entre os dias 5 e 7 de abril.
Na verdade, segundo Márcia, Guasti nunca apareceu, todos os contatos foram por telefone, ou através do WhatsApp e, um detalhe: mesmo sendo do Rio de Janeiro, ele entrou em contato usando um telefone com o DDD 11, ou seja, de São Paulo. A servidora relatou que todas as conversas sempre foram abertas para que outros servidores também ouvissem, sendo que nos primeiros contatos Guasti apresentou uma proposta e logo em seguida encaminhou a documentação.
Quando foi chamado para dar mais detalhes ao governo a pedido de Helton Zeferino, o representante da Veigamed apresentou Gilliard Gerent, como empresário da cidade de São José, sendo que mora em Biguaçu. Ele seria um dos sócios de suas empresas, segundo o relato ouvido por Márcia. Apresentado como Gil, ele participou da reunião, mas chamou a atenção da então servidora, que ao entregar os cartões de sua empresa, notou que Gil atuava em outro seguimento. Ele teria falado dos prazos, tirou dúvidas e tranquilizou os integrantes do governo, dizendo que não teria problema, pois o procedimento era seguro, inclusive, afirmando que os equipamentos estavam prontos, para serem embarcados do México para o Brasil.
O que chama a atenção, é que ela confirma que o pagamento efetuado de forma antecipada, foi sem qualquer garantia, tanto, que o depósito foi efetuado no dia 2 de abril e, o Invoice, que é o documento comercial, somente foi apresentado no dia seguinte. “Ele disse que só após o pagamento ele poderia autorizar a compra”, disse Márcia, que acredita que os equipamentos que nunca chegaram, devem ter sido vendidos para outro cliente.
Quando foi acertada a compra, a proposta da empresa foi que entregaria em duas remessas, sendo uma de 100 respiradores entre os dias 5 e 7 de abril e, mais 100 no dia 30 de abril. Ao ser questionada se foi feita alguma pesquisa sobre a empresa, Márcia relatou que a decisão de confiar na Veigamed foi de toda a equipe do setor, inclusive, com a área técnica aprovando o modelo comprado. Ela também disse que coube a Zeferino a negociação dos valores que começou em R$ 169 mil e, mas que fechou em R$ 165 mil por aparelho.
Um fato que chama a atenção, é que Pedro Araújo, que seria o responsável pela empresa, nunca fez contato, nem por telefone, muito menos pessoalmente, sempre sendo representado por Guasti, ou Gerent, sendo este o único que foi pessoalmente a secretaria.
Assinatura
Um dos inúmeros fatos estranhos relatado por Márcia Pauli em seu depoimento, é de que no dia 22 de março às 10h47, enquanto estava trabalhando na Defesa Civil, ligou para ela o então secretário de Estado da Casa Civil, Douglas Borba. Ele teria visto uma mensagem do também então secretário de Saúde, Helton Zeferino, que relatou no grupo de WhatsApp dos secretários que havia dificuldade nas compras e, que precisava de ajuda. Márcia relata que disse a Borba que precisava de um grupo com pessoas da Secretaria de Administração, do Tribunal de Contas, da Controladoria Geral entre outros poderes, para dar uma garantia maior de lisura do processo. No mesmo dia, Borba teria enviado material da Veigamed, só que dias após ela foi informada que havia uma autorização de pagamento com a sua assinatura digital em favor da empresa do Rio de Janeiro, só que a data era de 20 de março, ou seja, dois dias antes da Veigamed ter sido apresentada por Borba. “Eu recebo a ligação do cara (Fábio), no dia 22 eu conheço ele, mas autorizei a pagar a ele, dois dias antes, eu fiquei em desespero”, disse. A situação até o momento não foi esclarecida.
Indicação
Segundo o depoimento de Márcia Pauli, no dia 25 de março teve início o processo de contratação da Veigamed, que já seguiu com o pagamento antecipado, o que aconteceu no dia 2 de abril, situação a qual, segundo ela, foi totalmente inadequada. “Foram duas notas de R$ 16,5 milhões cada”, relatou. Acontece que Márcia chama a atenção para o fato de que 17 processos de compra deram problema até a sua exoneração. O mais impressionante é que ela afirma, que em todas as contratações, faltam propostas mais caras do que as apresentadas pelas empresas vencedoras. De acordo com a ex-servidora, mesmo após os processos concluídos, há uma busca por propostas mais caras para justificar a falta de um segundo orçamento. “Gente desesperada que estão fazendo isso para tentar se proteger”, disse. Ao todo, dos 17 processos com problema, entre 9 e 10 tiveram o pagamento antecipado.
Pressão pelo pagamento
Consta no depoimento da ex-servidora Márcia Pauli, que no transcorrer do processo de contratação da Veigamed, Fábio Guasti alterou a proposta usando como desculpa, que havia mudado a trade que traria os equipamentos ao estado. Outro detalhe é que ele pressionou o servidor José Florêncio, responsável pelos pagamentos. Quando começaram a cobrar a empresa que estava com a entrega atrasada, Fábio disse que não precisava duvidar e, segundo Márcia, falou no nome do ex-jogador de futebol, André Santos, como uma espécie de garantia. Gilliard Gerent também entrou em contato em nome da Veigamed e, disse que era dono de uma empresa em Florianópolis que tinha contrato com o prefeito Gean Loureiro (DEM). Márcia ao chegar em casa, pesquisou no Instagram o perfil de Gil, onde viu uma foto dele com o ex-jogador, que em uma postagem o parabenizava o chamando de cunhado. Já no perfil de Santos, aparecia Douglas Borba, foi quando ela percebeu que todos se conheciam.
Pressão na secretaria
Além da proposta da Veigamed, uma outra empresa, a Exxomed através de seu CEO, Onofre Neto, propôs a locação de 200 kits UTI com leito, monitor multiparâmetro, além dos respiradores. É o que consta no depoimento da ex-servidora Márcia Pauli, que justificou a escolha pela Veigamed, já que a Exxomed teria ainda que adquirir os aparelhos na China. Segundo ela, Neto que teria ligações com pessoas na secretaria, pediu uma reunião com o então secretário de Estado da Saúde, Helton Zeferino, e com o seu adjunto, André Motta Ribeiro, para reclamar que a sua proposta não havia sido a escolhida. A proposta, conforme o depoimento, teria sido derrubada por um servidor identificado como Vagner, responsável pela área técnica, que em sua análise ficou constatado que o equipamento oferecido por Neto, não atendia os pacientes com o Coronavírus.
Pressão de deputado
De acordo com a ex-servidora Márcia Pauli, a pressão foi tamanha, que o então secretário de Saúde, Helton Zeferino e, seu adjunto André Motta Ribeiro, levaram o empresário Onofre Neto para dentro de uma sala. Ela relata que foi chamada a participar da conversa e que ao sentar, ouviu de André que precisava providenciar um passaporte tipo D, para Neto, que iria para a China. Márcia chegou a questionar o motivo de tal benefício ao empresário em detrimento de outros e, em consulta ao Conjur, recebeu como resposta uma negativa para a liberação. O que chama a atenção, é que Márcia relata uma romaria do que chamou dos “coletes laranja”, que a todo momento perguntavam sobre o parecer da Conjur ao pedido de Neto e, o mais surpreendente. Afirmou que um deputado também ligou pressionando pela liberação. O nome do parlamentar não foi mencionado e no interrogatório não foi questionado. A partir dessa questão, ela relatou que sentiu uma mudança em Zeferino.
Presença na secretaria