Em minha ida a Joinville na semana que passou, aproveitei para entrevistar o prefeito Udo Döhler (MDB). A conversa aconteceu na sala de reuniões do gabinete da presidência da Câmara de Vereadores. Udo chegou animado, pois também participaria da posse dos novos vereadores mirins. Antes da conversa, comeu cuca e conversou com os jovens parlamentares.

SC em Pauta – Qual é a situação financeira do município de Joinville neste momento?

 Udo Döhler – Estamos executando o nosso orçamento e cumprindo com o nosso compromisso de forma muito satisfatória. Hoje o nosso ticket médio de compra comparado com 2013 quando assumimos o município, caiu em 40%, o que vale dizer que hoje estamos comprando praticamente pela metade do preço. Isso se deve ao modelo de gestão que adotamos ao longo dos nossos mandatos. De um modo geral os municípios no Brasil passam por uma situação de muito constrangimento, pois, segue a política do pires na mão. Hoje de cada R$ 100 que o munícipe contribui, apenas R$ 17 ficam, ou voltam para o município, os outros R$ 83 ficam para a União e para os estados. Tudo acontece nas cidades, é ali que as pessoas nascem, se educam, trabalham e fazem o seu negócio. É pouco provável que essa política fiscal, tributária mude, a não ser que aconteça uma reforma política, já que o modelo atual é inadequado. Em Joinville procuramos nos distanciar um pouco do país e nos transformamos em uma pequena ilha. Estamos nos esforçando muito para melhorar as nossas receitas próprias, principalmente aquelas que nos pertencem, a exemplo do IPTU e do ISS, por isso que estamos investindo fortemente no setor de serviço. Joinville hoje é uma cidade que está inserida nas cidades inteligentes, o que é essencial para a cidade ter espaços mais seguros e equilibrados.

 

SC em Pauta – Mas em números prefeito, o que é possível falar?

 Udo Döhler – Os nossos números estão muito próximos dos limites legais. Nós arranhamos no limite prudencial, hoje a nossa receita com o gasto de salários gira entre 53%, próximo do limite prudencial que é de 54%. Mas existem indicadores mais perversos do que esse, quando o nosso compromisso constitucional é de investir 15% na Saúde  e, Joinville compromete quase 39%, quando a média estadual gira em torno de 22%. É uma situação perversa, sendo que Joinville não está a reboque do Estado, pois Joinville é a cidade mais importante de Santa Catarina. Aqui abrigamos 8,5% da população, quase 12% da economia estadual e, os indicadores mostram com segurança que dentro de 30 anos a nossa população dobrará de tamanho e, que a nossa economia triplicará. Estamos lá buscando fortemente sermos líderes da inovação na América Latina.

Dentro de 30 anos a nossa população dobrará de tamanho e, que a nossa economia triplicará

SC em Pauta – A Previdência é uma grande preocupação no Estado e na União. Como está a situação em Joinville?

 Udo Döhler – Uma cidade não se fortalece com alargamento de ruas e edifícios altos. Ela se fortalece se modernizarmos a gestão, a exemplo do que fizemos em Joinville. Quando assumimos a Prefeitura em 2013, encontramos uma plataforma analógica. Eles não tinham informação. Joinville é o único município brasileiro 100% digitalizado. Há três anos, quase quatro não assino mais nenhum documento, porém, mais que isso, hoje tenho todas as informações que necessito no meu tablet. Essas informações permitem não só transparência na ordem legal, é preciso deixar esse número visível para as pessoas. Esse modelo veio para Santa Catarina e, Joinville foi a cidade escolhida para implementar esse modelo. Joinville também editou o primeiro ponto de mobilidade do país, ou seja, fomos a primeira cidade a trabalhar o Plano de Mobilidade.

SC em Pauta – O seu partido, o MDB está discutindo a sucessão de Mauro Mariani, com Fernando Krelling, Celso Maldaner e Dário Berger como candidatos. Quem o senhor acha que está mais preparado para assumir esse desafio?

 Udo Döhler – O meu partido é Joinville, sempre o foi, mas estou filiado ao MDB dentro da nossa construção político-partidária. Ao longo desses 6 anos exercemos uma militância forte, chegamos ao Executivo com três vereadores em nosso primeiro mandato e, aumentamos a nossa bancada para quatro no Legislativo. Agora estamos com cinco e na eleição de 2020 o nosso partido elegerá de sete a oito vereadores de uma bancada de 19, então estamos cumprindo com o nosso compromisso local. No que diz respeito ao nosso partido no estado, para não falar do nacional do qual queremos ficar o mais distantes possível, mas no estadual o que nós encontramos é uma resistência, pouco compreensível, pois há um esforço para que a renovação não aconteça. O nosso candidato Mauro Mariani não foi feliz na eleição, inclusive, já falou que não participará mais de eleições futuras, mas insiste em manter a liderança do partido. Isso na minha opinião é um descuido desnecessário, ele pode até atrapalhar quando surge uma indicação que seria a do Dário Berger, por exemplo, e isso abre espaço para que outros políticos do nosso partido, a exemplo do Celso Maldaner e do Cobalchini (Valdir). Eles insistem nas suas candidaturas, quando do outro lado nós temos espaço para outras lideranças que estão aí, a exemplo do Chiodini (Carlos), o Fernando Krelling e o Mauro De Nadal, só para citar alguns, mas temos outros e seria uma pena se desperdiçássemos essa oportunidade, já que o MDB é o partido mais importante do Estado. Governamos 101 cidades, algumas importantes como Joinville, Florianópolis e Jaraguá do Sul, até para lembrar, tem o prefeito Lunelli (Antídio) de Jaraguá que tem feito um bom trabalho, que poderia ser avaliado pelo partido, mas continua forte esse clientelismo político que não ajuda, só atrapalha.

O nosso candidato Mauro Mariani não foi feliz na eleição, inclusive, já falou que não participará mais de eleições futuras, mas insiste em manter a liderança do partido.

SC em Pauta – Então na sua opinião os nomes que casariam com a renovação no MDB, seria o Fernando Krelling, o Mauro De Nadal, Carlos Chiodini entre outros?

 Udo Döhler – Sem dúvida, e eles estão aí com uma boa experiência política. O Mauro De Nadal há mais tempo, o Fernando Krelling com uma experiência mais recente, mas ele passou aqui pela Câmara de Vereadores de Joinville, foi presidente e teve uma boa votação, o prefeito Antídio Lunelli que vem surpreendendo, o Carlos Chiodini como deputado federal e os nomes estão aí postos. Além disso, defendi no ano passado depois da eleição que a convenção tivesse sido realizada ainda em 2018. Isso não aconteceu, enfraqueceu o partido até na eleição da mesa da Assembleia Legislativa, onde o desfecho poderia ter sido outro, apesar que o deputado Júlio Garcia tem realizado um papel ímpar na Assembleia, procurando ajudar esse novo governo que ainda precisa construir a experiência necessária e conhecer a realidade mais de perto. O presidente Júlio Garcia está fazendo um esforço que está nos surpreendo.

 

SC em Pauta – O senhor se colocou à disposição para ser candidato a governador e acabou sendo o Mauro Mariani. O senhor sente alguma mágoa com a forma que aconteceram as coisas?

 Udo Döhler – Nenhuma! O que nós fizemos foi olhando para os objetivos do MDB, colocando o nosso nome para a sucessão estadual. Num segundo momento nós nos insurgimos contra as prévias, pois achamos que aquela era uma postura cartorial. Mais adiante dissemos que estávamos dispostos a renunciar ao nosso mandato, mesmo correndo riscos, mesmo que a opção ficasse lastreada em dois espaços: Ou pela opção dos prefeitos eleitos, ou através de uma pesquisa, pois, a executiva era voto carimbado. Como isso não foi atendido e por ter havido um entendimento entre o então governador, Eduardo Pinho Moreira e o Mauro Mariani, nós entendemos e nos recolhemos decidindo continuar ajudando a cidade de Joinville.

A executiva era voto carimbado

SC em Pauta – O senhor pensa em disputar o Governo do Estado, ou ao Senado?

Udo Döhler – É uma pena que a cada dois anos nós temos uma eleição em nosso país. Claro que isso atrapalha, uma gestão de quatro anos se reduz a dois anos e meio, três anos no máximo, por isso que eu defendo um mandato único que seria de cinco ou seis anos, que acabaria prevenindo os esforços necessários da reeleição, o que acaba embutindo o clientelismo político desnecessário. Temos mais um ano e meio de governo procurando fazer o melhor e, a nossa gestão é boa e entregaremos obras importantes para o município. Resolvemos ao longo desses seis anos o que nos preocupava nas áreas da Educação e da Saúde, tanto que hoje nós temos o IDH da Saúde mais bem pontuado do país. A nossa Educação é a melhor no IDEB da região Sul do Brasil e competimos nacionalmente somente com Sobral no Ceará, que é uma cidade menor que Joinville. Então, esses planos estão devidamente equacionados e nos faltava investir fortemente em infraestrutura. Estamos fazendo isso e vamos entregar obras importantes, pois estamos investindo R$ 61 milhões em recapeamento de pavimentos, além de US$ 40 milhões para uma ponte que ligará os bairros do Ademar Garcia e do Boavista. Será uma ponte com 800 metros parecida com a que liga a Ilha ao Continente em Florianópolis, a isso se soma outro investimento de US$ 70 milhões que buscamos junto ao BID, que está em fase de execução que nos permitirá um investimento de quase R$ 200 milhões para buscar a solução das enchentes na Zona Sul da cidade. Agora entregaremos duas obras na área do saneamento que é a nossa estação de tratamento do esgoto e, ampliação do Rio Cubatão que estamos investindo R$ 120 milhões. A Companhia de Águas vai investir nos próximos três anos e meio o que ultrapassa ao nosso mandato, R$ 530 milhões, desses, R$ 170 milhões em água, o dobro em esgoto para sairmos desse percentual de atender apenas um terço da população com esgoto, o que era mais constrangedor ainda quando assumimos, que tinha apenas 17%. Temos que ultrapassar a barreira dos 50%, para transformar essa cidade mais segura e, ainda termos acesso a financiamentos que hoje apesar da nossa economia estar pontuada com “triplo A (AAA)”, são poucos municípios que ostentam esse indicador, mas se não avançarmos no esgoto, poderemos ter restrições na busca de recursos. Nessa semana estive em Brasília buscando financiamento, recurso nosso, R$ 100 milhões para acelerar a recuperação das nossas vias públicas, pois, essa nossa operação de tapa buraco que é tão explorada por uma pequena oposição mais barulhenta, que fica falando de buraco o tempo todo. Pavimentação deteriorada, fecha um buraco aqui e abre outro, mas estamos recuperando 209 ruas e com esse novo financiamento, ainda em nosso mandato serão mais 500 ruas, então teremos essa situação resolvida e deixaremos o município numa situação mais confortável. Nós chegamos a prefeitura com um passivo de mais de R$ 300 milhões, e vamos deixar recursos para investimentos para o futuro prefeito, o que nos tranquiliza mais um pouco.

 

SC em Pauta – Como é esse controle das finanças?

 Udo Döhler – Me orgulho muito do avanço que tivemos. Quando chegamos ao município não tínhamos se quer um fluxo de caixa. A nossa plataforma era 100% analógica, agora é tudo digital. O nosso fluxo de caixa de 2015 em diante passou a ser anual. Em setembro do ano passado construímos o nosso fluxo de caixa que só terminará em 31 de dezembro de 2021, ou seja, estamos oferecendo ao nosso sucessor um ano de fluxo de caixa.

 

SC em Pauta – Mas afinal, o senhor pensa ou não no Senado ou no Governo do Estado?

 Udo Döhler – Nós ainda temos um ano e meio do mandato, vamos nos preocupar fortemente com isso. Antes de olhar para esse cenário mais adiante, nós hoje estamos focados no cenário do próximo ano, quando elegeremos o nosso futuro prefeito e renovaremos o Legislativo. Já disse, nós vamos aumentar a nossa participação na Câmara de Vereadores e ter um prefeito que dê continuidade para aquilo que achamos que é bom para a cidade.

SC em Pauta – Na sua opinião, quais os nomes mais preparados para lhe suceder?

 Udo Döhler – Olha, felizmente nós temos bons nomes, o que no passado nem sempre acontecia. Me recordo de quando fui candidato, fui estimulado até com uma certa insistência para que assumíssemos esse compromisso. Dos nossos adversários nas eleições de 2012, não havia nenhuma renovação ali e, em 2016 foram oito candidatos, também nenhuma renovação, lideranças carimbadas. Agora temos talentos que sabem o que é bom para a cidade, não faltarão bons candidatos.

 

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