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Forças de segurança concederam entrevista coletiva – Imagem: Divulgação

As forças de segurança do Estado concederam uma entrevista coletiva na manhã de hoje, para tratar da prisão e da morte do dentista e servidor público Cezar Maurício Ferreira. Ele foi detido após colidir seu carro na traseira de outro veículo e acabou preso por suspeita de embriaguez ao volante. Ferreira faleceu horas depois, durante a madrugada, dentro da cela.

Como a coluna já havia revelado nesta semana, o laudo toxicológico descartou o uso de bebidas alcoólicas e substâncias entorpecentes. O exame realizado pela Polícia Científica apontou como causa da morte uma cardiopatia hipertrófica — doença que provoca arritmias cardíacas. Ferreira era portador de problemas cardíacos e também era diabético.

Durante a coletiva, foi dito que no momento da abordagem o dentista apresentava sinais de alteração psicomotora, o que, segundo ele, justificou a prisão. “A prisão foi legal, o auto de infração foi realizado de forma adequada. O que se discute agora é como melhorar aquilo que já é muito bom. Em 28 anos de serviço, não me recordo de um caso em que alguém preso por embriaguez tenha tido um mal súbito e morrido em decorrência da própria prisão”, declarou.

Contradição revelada

Um dos momentos mais controversos da coletiva ocorreu quando um perito foi questionado sobre possíveis sinais de que Cezar estivesse passando mal. Ao justificar a conduta dos policiais, o perito alegou que o odor que teria motivado a suspeita de embriaguez poderia ser o chamado “hálito cetônico”, característico em pessoas com diabetes em jejum prolongado. “O Sr. Cezar era diabético, e o diabético pode, se estiver em longo período sem alimentação, apresentar hálito cetônico. Esse hálito pode ser confundido com odor de substância… nem sempre álcool, mas um hálito diferente. Pode ter sido interpretado como hálito etílico pelo policial”, declarou o perito, admitindo que não teve acesso ao prontuário médico da vítima.

No entanto, a tese do hálito cetônico caiu por terra diante de uma informação factual: Cezar havia se alimentado pouco antes do acidente e da prisão. A coluna teve acesso à nota fiscal de consumo registrada às 17h48 em uma padaria da cidade, a Pão e Sonho. O acidente foi registrado às 18h31, ou seja, logo após. A autenticidade da compra foi confirmada via extrato bancário, que comprova o pagamento no estabelecimento.

Dois médicos consultados pela coluna reforçaram a inconsistência da hipótese levantada pelo perito. Segundo um deles, o hálito cetônico — que tem odor semelhante ao de maçã verde — desaparece logo após a ingestão de alimentos. “Se ele tivesse com hálito cetônico por jejum, o odor sumiria pouco depois da refeição”, explicou um dos especialistas.

Tentativa de justificar

O advogado da família, Wilson Campos, criticou a fala do perito e o que chamou de “revezamento de versões” apresentado pelas autoridades para justificar a abordagem e prisão do dentista. “Primeiro era o ‘odor etílico’, depois a suposta influência de medicamentos. Agora, surgiu essa nova explicação, o tal ‘hálito cetônico’. Tudo para novamente atribuir a culpa à vítima”, disse.

Campos ressaltou que, desde o início, informou que Cezar havia feito um lanche instantes antes do acidente. “Quer dizer, o perito vai a público, sem o prontuário médico, sem analisar documentos, e se baseia em suposições. Está claro que essa fala é mais um erro grave dentro de uma sucessão de equívocos que culminaram em uma prisão ilegal e na ausência de atendimento médico, que poderia ter salvado a vida do Dr. Cezar”, declarou.

O advogado ainda questiona a conduta das autoridades envolvidas: “Cabe a indagação: o que mais foi feito com base na presunção de culpa e sem qualquer verificação documental?”.

Mudanças nos protocolos

Diante do caso, o delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel, anunciou que novos protocolos serão implementados. Entre as medidas, agentes das delegacias passarão a contar com contatos de emergência e outras orientações para atendimento mais adequado a pessoas custodiadas.