Audiência pública foi realizada em Araquari, na sede da Aciaa (Agência AL)

A retomada imediata das obras de duplicação da BR-280, no trecho que liga o município de São Francisco do Sul à BR-101, mobilizou cerca de 200 pessoas, entre lideranças políticas e empresariais dos municípios do Litoral Norte do estado, nesta sexta-feira (25). O ato aconteceu na Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Araquari (Aciaa), durante audiência pública promovida pela Comissão de Transportes, Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura da Assembleia Legislativa para tratar do tema.

O proponente do debate foi o deputado Maurício Peixer (PL), que coordena a Frente Parlamentar em Defesa da BR-280. Na abertura, o parlamentar observou que o trecho, de 36 quilômetros, é o único acesso rodoviário ao porto de São Francisco do Sul, sendo utilizado para o escoamento de produtos industriais e agrícolas e também para o acesso às praias da região, sendo comuns a formação de enormes congestionamentos de veículos.

Outro ponto ressaltado foi a falta de segurança da via. Conforme disse, somente em 2025 foram registrados 11 óbitos, sendo a grande maioria em função de colisões frontais entre veículos.

De acordo com Peixer, a solução seria a duplicação, mas as obras previstas estão paradas desde o ano de 2022, por conta da necessidade de readequação no projeto, e não têm previsão de recomeçar.

“Então, essa audiência pública é para cobrar do governo federal que dê continuidade ou refaça todo o projeto imediatamente, para poder dar continuidade à duplicação. Porque aqui está colapsado, ninguém suporta mais. São 50 mil veículos por dia que passam nessa rodovia, sem contar que temos o porto de São Francisco do Sul, que movimenta pelo menos 1 mil caminhões por dia.”

Os deputados Sargento Lima (PL) e Matheus Cadorin (Novo), que representam a região, também se manifestaram no mesmo sentido.

“Essa duplicação é fundamental e retrata também o descaso do governo federal com o estado de Santa Catarina. Então, essa discussão é muito boa, principalmente para podermos divulgar essa situação, para que seja do conhecimento de todos, no estado de Santa Catarina e no Brasil. E para que as pessoas saibam que tem um pedaço do Brasil que está sendo esquecido pelo governo federal”, disse Lima.

“Nós temos aqui um dos pontos mais ricos do Brasil, não só de Santa Catarina, e a gente merece o respeito do governo federal para que essa obra seja concluída o mais rápido possível. E nós estamos na iminência de mais um porto na região, então vai multiplicar o número de caminhões que vão transitar aqui. É uma insegurança para a população, pois nós temos aqui acidentes recorrentes, por vezes com óbito”, disse, por sua vez, Cadorin.

Encaminhamentos
Ao final da reunião foram acertados três encaminhamentos:

  • Solicitar ao governo do Estado a estadualização da BR-280, para futura privatização;
  • Criação de uma comissão, com representantes dos setores público e privado, para tratar com o Ministério dos Transportes sobre a duplicação da rodovia;
  • Solicitar que nas licitações a serem lançadas pelo governo federal sejam separados os trechos de Araquari e de São Francisco do Sul.

Em áudio enviado para o deputado Maurício Peixer, o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes em Santa Catarina (Dnit-SC), Alysson Rodrigo de Andrade, afirmou que a terceira demanda apresentada já está nos planos do órgão, assim como a execução de contrato complementar para a ponte sobre o Canal do Linguado, que separa a Ilha de São Francisco do continente.

Outras manifestações
Ainda durante a audiência, diversos representantes dos setores público e privado tomaram a palavra para tratar do tema.

O diretor de articulação estratégica da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), Marco Antonio Corsini, declarou que a obra é fundamental para a continuidade do desenvolvimento econômico do estado.

“Nós temos uma economia altamente diversificada, pegando o polo de Joinville, São Francisco, Jaraguá do Sul. E essa região também é extremamente importante em função do porto existente e de outra unidade que será instalada. Então, a logística aqui é fundamental para nós termos um escoamento com a melhor qualidade na entrega dos produtos no Porto e também aqueles que nós vamos enviar para fora do nosso estado.”

Por sua vez, o secretário de Estado adjunto de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Ivan Amaral, afirmou que a duplicação irá complementar as ações que o governo tem feito para dinamizar a logística na região. Ele se mostrou, entretanto, pouco otimista sobre a retomada imediata da obra.

“Nós estamos fazendo uma obra de dragagem de 12 milhões m3 na entrada da baía de São Francisco e a duplicação é fundamental para complementar todo esse esforço que o governo do Estado está fazendo para que as cargas cheguem mais rápido no porto e para o desenvolvimento de toda a região. Inclusive, estamos tratando com o Dnit esta duplicação, que ainda está na fase de projeto e também deve enfrentar o problema da falta de recursos no orçamento federal no ano que vem.”

Já o prefeito de Araquari, Ludgero Jasper Junior (PSD), destacou a união de esforços em prol da duplicação.

“Hoje é um dia histórico para nós, pois estamos tratando desse tema tão desgastante que é a nossa BR-280. A gente tem trabalhado muito nisso, mas hoje é importante pois a Assembleia Legislativa está nos auxiliando a cobrar da bancada federal, de senadores e deputados federais, e do próprio governo federal, esse processo.”

A mesa de debatedores contou ainda com a presença do presidente da Câmara Municipal de Araquari, Neuzir Elio Machado (PSDB); e do presidente da Aciaa, Vilmar Francisco Leoni.

Retrospecto da obra
Os trabalhos de duplicação da BR-280 tiveram início ainda no ano de 2018, com inconstância na execução em função da falta de recursos. O trecho entre Araquari e São Francisco do Sul da BR-280 (lote 1) é apontado pelo Dnit como o mais complexo entre as obras em andamento nas rodovias federais de Santa Catarina.

Em dezembro de 2022, novos empecilhos surgiram: a necessidade de readequação do projeto e de um contrato complementar para o canal do Linguado e, ainda, a instalação de ciclovia nos 36 quilômetros do lote 1.

No ano seguinte, o governo federal reservou R$ 80 milhões para o trecho, quantia considerada adequada, com parte do montante a ser aplicado em desapropriações. À época, o Dnit informava que seriam priorizados dois trechos, com extensão de 17 quilômetros, somados. As frentes de trabalho aconteceriam entre os quilômetros 3 e 17, no traçado novo (contorno) de São Francisco do Sul; e entre os quilômetros 25 e 28, em Araquari, onde estava planejada a construção de um elevado.