Nos últimos anos, os livros de autoajuda se tornaram um verdadeiro fenômeno de vendas. A promessa é sempre sedutora: mudar de vida, encontrar a felicidade, alcançar o sucesso. Mas essa busca frenética por respostas rápidas muitas vezes leva a um efeito oposto ao que se espera: em vez de nos libertar, pode nos aprisionar ainda mais.

O primeiro problema da autoajuda é a ideia de que existe um método universal para a felicidade ou o sucesso. Esses livros frequentemente ignoram que cada pessoa tem uma história única, circunstâncias diferentes e desafios próprios. O que funcionou para um autor que ficou milionário pode não ser aplicável para alguém vivendo uma realidade completamente distinta.

Outro aspecto preocupante é a forma como esses livros alimentam a cultura da culpabilização individual. “Se você não está feliz ou realizado, o problema está em você.” Essa mentalidade pode ser perigosa, pois ignora fatores externos, como desigualdade social, saúde mental e até mesmo questões aleatórias da vida que fogem que não estão ao nosso alcance. Nem tudo pode ser resolvido com pensamento positivo.

Além disso, muitos desses livros criam uma espécie de dependência. O leitor se sente inspirado no momento, mas, depois de alguns dias, volta à estaca zero e sente necessidade de buscar outro livro, outro método, outra fórmula. O mercado da autoajuda sobrevive justamente dessa sensação de que nunca estamos completos, nunca somos bons o bastante. Se a autoajuda realmente ajudasse, deveríamos perguntarmos por que as pessoas continuam consumindo mais livros deste gênero.

Mas isto não quer dizer que toda autoajuda seja inútil. Alguns livros trazem reflexões válidas, principalmente aqueles que se apoiam em filosofia, psicologia ou neurociência. Mas a verdadeira mudança dificilmente vem de frases motivacionais ou listas de passos mágicos. Ela exige tempo, autoconhecimento e, principalmente, aceitação da realidade como ela é, com seus altos e baixos, sem a necessidade de estar sempre em evolução.

No fim das contas, acredito que o problema da autoajuda não está apenas nos livros em si, mas na ideia de que há sempre algo faltando, algo a ser consertado ou otimizado em nós. Essa obsessão por crescimento contínuo pode nos fazer esquecer que a vida não é uma empresa a ser gerenciada, mas sim uma experiência de vida.