A Administração dos recursos humanos e das coisas públicas: o desafio da modernidade (VI).
Entre os diversos “assessores” que a SEA oficialmente dispunha, alguns não desempenhavam atividades na Secretaria onde tinham sido lotados. Um desses casos era o de Roberto Biguaçu que acabou se tornando um auxiliar dedicado e eficaz, e também um fraternal amigo. Outro grave problema era o descontrole das licenças por supostos problemas médicos. Dr. Mário Cantição, na chefia da Perícia Médica, estancou a sangria.
A brecada nos exames e consultas desnecessários.
Outro cano furado ocorria no antigo IPESC, o Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina que, à época, abrangia a previdência e a assistência médica dos funcionários públicos estaduais. Nosso diagnóstico mostrava uma exorbitante quantidade de consultas marcadas às quais o interessado não comparecia, e de exames laboratoriais cujos resultados, quando prontos, não eram resgatados. Prejuízo enorme para o Instituto e, portanto, para as finanças do Estado.
Esse desperdício ocorria porque tanto as consultas médicas como os exames posteriores eram gratuitos. Muitos dos usuários exorbitavam do direito ao seu uso, exagerando na quantidade e na frequência desses procedimentos.
Para consertar os vazamentos, conseguimos, com o Governador, colocar na Presidência do Instituto o competente advogado e especialista em assuntos financeiros, Nilson José Boeing. Adotamos, então, de comum acordo, uma medida simples, mas prática e eficiente: o Instituto passou a cobrar por qualquer exame ou consulta. Embora fosse um valor pequeno, praticamente simbólico, isso foi suficiente para refrear o uso irresponsável dos benefícios. E o cano parou de vazar.
Mais uma dificuldade: o Departamento de Compras do Estado.
Poucos dias após minha posse, fiz uma visita ao Almoxarifado do Departamento Central de Compras, local onde eram estocados os materiais que ficavam à disposição dos diversos órgãos do Governo.
Fiquei espantado. Um único funcionário era responsável pelo controle dos móveis, equipamentos e mil coisas mais, e só ele sabia onde cada objeto estava guardado. Quando perguntei se ele dispunha de algum sistema informatizado para localizar aquela parafernália, ele pediu-me que eu o testasse: qualquer coisa que eu mencionasse – uma carteira escolar ou um fardo de papel higiênico – ele imediatamente localizava. Era assim que o Departamento funcionava: chegava alguém da Educação, pedia cadeiras, ou cadernos, lápis, o que fosse, e o “procurador-geral” percorria os corredores e prateleiras arrecadando o material.
Saí de lá cem por cento convencido de que o sistema estadual de armazenamento de materiais precisava de uma chacoalhada vigorosa.
Super Antonacci em ação.
O novo Diretor do Departamento, empossado recentemente por indicação de Sergio Sachet, era um grande craque: José Luiz Antonacci de Carvalho. Ele inteirou-se da situação encontrada no Almoxarifado e me alertou para algo ainda mais perturbador: a inexistência de um cadastro de fornecedores. Havia um número muito reduzido de empresas que participavam das vendas para o Estado. E a relação desses fornecedores era um segredo guardado a sete chaves.
Antonacci organizou, cadastrou e informatizou tudo. E, claro, abriu a participação a todas as empresas com capacidade de abastecer as necessidades do Estado.
Este procedimento foi especialmente complexo porque o Governo era visto como um mau pagador. Os atrasos eram frequentes, fato que, numa época em que a inflação brasileira superava os 200% ao ano, praticamente inviabilizava que empresas organizadas se inscrevessem nas licitações. Antonacci e eu fomos, então, buscar a ajuda da Secretaria da Fazenda que, rapidamente, pôs os pagamentos devidos em dia, criando um novo ambiente de credibilidade. E ele também se valeu do apoio do CIASC (Centro de Informática e Automação do Estado) para montar o novo cadastro de empresas.
Para que esse processo acontecesse da forma mais aberta e mais transparente possível, Antonacci contactou todas as associações empresariais dos municípios catarinenses para que elaborassem e nos enviassem relações de possíveis fornecedores. A modernização foi completa. E a moralização também.
Encontro Nacional de Secretários da Administração.
Já em 1985, aconteceu em Foz do Iguaçu o Encontro dos Secretários Estaduais de Administração, com a presença do então Ministro Aluizio Alves. Fiquei muito orgulhoso ao constatar que as conquistas que tivemos naqueles pouco mais de dois anos de trabalho, eram conhecidas e reconhecidas em todo o País. Diversos Secretários de outros Estados mencionaram a dificuldade de enfrentar mazelas, semelhantes às nossas, por “falta de vontade política”, ou pela ausência de “coragem de muitos governantes”. E tinham conhecimento de que, no nosso Estado não faltou nada disso. Justiça seja feita: o Governador Esperidião Amin nunca faltou com seu apoio no esforço da modernização da gestão estadual.
Próximo capítulo.
Na semana que vem tratarei das intensas e interessantes negociações salariais entre sindicatos e associações dos funcionários de um lado, e órgãos do Governo de outro. Já estavam em ação personagens que, mais tarde, ganhariam grande visibilidade na política catarinense, como Sergio Grando e Ideli Salvatti.
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