Cenas do capítulo anterior.

Na semana passada tratei do peculiar modelo de trabalhar e de fazer política do Governador Esperidião Amin. Um começo confuso e espetaculoso.

A enchente e o Governador.

FOTO 1.

1983, Blumenau, em frente à Prefeitura..Governador e Prefeito Dalto dos Reis. Foto postado por Amin no Facebook

1983, ano da posse de Esperidião Amin como Governador de Santa Catarina, e ano das maiores enchentes da história do Estado. Ele tomou posse em março, e em julho grande parte das cidades catarinenses estava em baixo d’água. Amin, como era de seu dever, jogou-se de corpo, alma e botas de borracha, no combate ao flagelo e na ajuda às vítimas.

A iniciativa de Kleinubing: uma reunião decisiva.

À certa altura, em Florianópolis, o Governo estava atônito. Não sabia o que fazer diante da imensidão das cheias que cobriam quase todo o Estado. O Governador Esperidião Amin estava fora da Capital, vistoriando de helicóptero as áreas mais atingidas. Então, por iniciativa do Secretário da Agricultura Vilson Kleinubing, reuniram-se alguns membros da equipe para definir as ações a serem tomadas. E logo se constatou que o Estado não tinha meios de enfrentar uma enchente daquele porte.

Em meio à reunião, o Chefe da Defesa Civil do Estado recebeu a notícia, felizmente falsa, mas dramática, de que havia milhares de mortos no Estado. E desabou em um choro convulsivo na presença de todos.

Era preciso buscar ajuda, urgentíssima, do Governo Federal. Como era um sábado, as tentativas já feitas tinham sido infrutíferas. Então lembrei que havia um caminho, mais pessoal do que oficial.

A participação do Secretário da Administração nessa história.

Na época, um dos mais poderosos personagens da República era o Chefe da Casa Civil João Leitão de Abreu que, por acaso da sorte, era meu conterrâneo lá de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul onde nasci. Ele tinha sido vizinho e muito amigo de meus pais. Mais tarde foi meu professor na Faculdade de Direito da PUC, em Porto Alegre.

Liguei para a residência oficial do Ministro, em Brasília, e pedi à pessoa que atendeu que dissesse a ele que quem estava na linha era o fulano de tal, seu antigo aluno, filho de seus vizinhos de Cachoeira. E que eu precisava falar sobre a situação em Santa Catarina onde agora eu era Secretário. Segundos depois Leitão de Abreu estava na linha, me cumprimentou amistosamente, perguntou sobre meus familiares, ouviu nosso pedido de socorro, disse que já estava a par da nossa situação, embora não soubesse ser tão grave. E afirmou que, em não mais do que quinze minutos, o Ministro Mário Andreazza iria nos telefonar para detalhar os meios de apoio.

Dos quinze previstos não se passaram dez e Andreazza ligou perguntando o que estávamos precisando. Foi dito a ele que necessitávamos urgentemente de lanchas, barracas, alimento, remédios, essas coisas imprescindíveis. E vários aviões de pequeno porte e helicópteros para o transporte dessa ajuda às várias regiões. Na noite do mesmo dia já estavam aterrissando em Florianópolis enormes aviões da FAB trazendo o socorro.

A catástrofe vista de perto.

Foto de O Município.
Foto: Fundação Cultural de Blumenau/Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

Como a Secretaria de Administração, em si, pouco poderia fazer para ajudar naquela situação, achei que devia ver de perto o que estava acontecendo na minha cidade adotiva de Blumenau. No dia seguinte, consegui carona em um dos aviões já em operação até Navegantes.

A seguir, um helicóptero grande que levaria mantimentos e remédios para Blumenau, me levou até lá. No trajeto, observei, do alto, a catástrofe: um oceano de água amarronzada, minúsculas ilhas às vezes com alguns bovinos apertados uns aos outros, tentando salvar a vida. E a visão da cidade submersa, com água batendo no segundo andar dos prédios do Centro, muitas casas totalmente encobertas. Não teve como não chorar. Poucas vezes na vida senti tanta tristeza.

Minha pequena aventura particular.

Futuro Chefe da Defesa Civil de Blumenau.

Consegui hospedagem no quartel, um dos poucos lugares que fica totalmente fora de enchente em Blumenau. Fiquei lá alguns dias, observando as ações de socorro e atendimento e, de modo geral, o extraordinário trabalho feito pelos militares. O comandante do “23 BI” (23º Batalhão de Infantaria), Coronel Antônio Bascherotto Barreto, teve um papel notável, realizou um trabalho árduo, competente, incansável. Cinco anos mais tarde, ele atendeu o pedido de Vilson Kleinubing, Prefeito recém-eleito de Blumenau, e assumiu a Secretaria da Defesa Civil e Meio-Ambiente do Município.

No decorrer desse meu “serviço militar”, fui incluído em uma jornada de helicóptero, destinada à distribuição de alimentos e remédios em alguns pontos mais altos da cidade, de onde seriam encaminhados, em barcos, a hospitais, escolas e entidades. O que eu não sabia, até embarcar, é que esses helicópteros, para facilitar uma rápida descarga, faziam os percursos com a porta aberta. Não havia bancos, a gente ia sentado no chão. Quando o veículo se inclinava, fazendo alguma curva, era preciso se agarrar com dedos e unhas no assoalho do helicóptero.
A missão foi cumprida com sucesso. Mas, quando apareceu outra tarefa semelhante, declinei do convite.

Próximo capítulo.

Na semana que vem vou lembrar o salto repentino de Amin rumo à notoriedade nacional e vou contar as dificuldades iniciais que tive na Secretaria da Administração, como, por exemplo, gente que tinha cargo, mas não trabalhava lá.