Prólogo 1. Castigo por obra alheia.

É interessante lembrar que o cidadão Paulo Gilberto Gouvêa da Costa passou alguns anos da sua vida, depois de ter sido Secretário da Educação, pagando multas determinadas pelo Tribunal de Contas do Estado. Isso ocorreu em razão de problemas existentes em período anterior à sua posse naquele cargo. E nem deu para reclamar porque houve displicência nesse assunto já na minha época. Nas primeiras semanas de meu trabalho na Secretaria, foram apresentadas pelo TCE advertências de que aqueles erros deveriam ser corrigidos sob pena de multa. E já sob minha responsabilidade o setor competente deixou de prestar os esclarecimentos solicitados. Por esse motivo, o castigo que teve origem na administração de outro secretário veio bater no meu lombo.

É por essas e outras que tanta gente boa se recusa a ocupar cargos de confiança da administração pública.

Prólogo 2. A homenagem que Córdova me fez em particular.

Na fase final do meu trabalho na Educação, tive o prazer da convivência próxima com o Governador Henrique Córdova. E guardo com especial carinho nossa conversa da despedida. Ele iria para sua São Joaquim, cuidar de sua propriedade e da sua vida, eu seguiria na atividade pública, nesse caso na Secretaria da Administração. Naquela ocasião, ele repetiu para mim um elogio que já fizera em público, mas que, quando assim aconteceu, em alguma solenidade, tinha soado como algo protocolar, uma referência convencional do chefe a seu auxiliar. Dito depois, em particular, só nós dois ali, o que ele me falou passou a ser algo precioso: agradeceu-me por ter sido, em todo o período em que convivemos, uma pessoa cem por cento honesta, que jamais criou problema algum para ele. Homenagem desse tipo eu só viria a receber bem mais tarde, quando já era Deputado. Essa, vou contar quando, na ordem dos acontecimentos, chegar a hora certa.

O novo convite, a dúvida e o sim.

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Assumi o cargo de Secretário da Administração no início de 1983. Soube que chegou a ser cogitada minha permanência na Educação, já que meu trabalho era bem avaliado, mas, o novo Governador, Esperidião Amin, tinha um sólido compromisso com seu amigo de Joinville, o competente empresário da área de comunicações Moacir Thomazi. Ele foi meu sucessor no posto. E Amin convidou-me a ser Secretário da Administração. Não me passava pela cabeça ocupar esse tipo de cargo, com a característica de ser totalmente voltado para dentro do Governo, sem conexões maiores com a população. E estava, naquele momento, recebendo pressões da empresa da qual meu sogro era sócio, a Artex, para me estabelecer em definitivo na cidade de Blumenau e ocupar lá um cargo de direção. Mas, por outro lado, minha esposa e meus três filhos, nesta época, entre 5 e 7 anos, estavam muito bem ambientados em Florianópolis e eu tinha tomado gosto pela administração pública. Em 24 horas dei a resposta, aceitando o cargo.

O estilo de Esperidião. A reunião com Ivo Hering.

Um episódio ocorrido na fase de transição do Governo, nas semanas finais de 1982, retrata exemplarmente o modo como agia o recém-eleito Governador Esperidião Amin. Uso nessa frase o verbo no passado porque, anos mais tarde, participei novamente de um Governo Amin. E o estilo, então, havia mudado bastante. Todavia, naquele período entre a eleição e a posse, e também mais tarde, no decorrer de seu mandato, a maneira de agir do novo Governador é este que vou agora relatar.

Nas semanas que se seguiram à eleição, um dos mais respeitados empresários de Blumenau, Ivo Hering, de vez em quando se cruzava com o Governador Eleito, em eventos, visitas de Amin à cidade, momentos como esses. E em todas as ocasiões, Esperidião cochichava ao ouvido de Ivo: “Vou precisar de você”. E depois de dois ou três desses recados discretos, mas insistentes, o empresário foi convidado a ir a Florianópolis para um encontro com o eleito.

A reunião seria realizada em uma espécie de “escritório de transição” que a equipe de Amin montou no Centro de Treinamento do BESC, em Florianópolis. O ambiente nas salas de espera e no gabinete de Governador Eleito era de euforia e agitação. Dezenas de pessoas entravam e saíam, algumas para cumprimentar o quase empossado Governador, outros para fornecer sugestões, e, ainda (como foi o meu caso), para discutir uma possível participação no Governo. Também havia, naturalmente, muita gente da imprensa ansiosa para descobrir alguma novidade.

As pessoas mais próximas de Amin, e mais visíveis naquele momento e, mais tarde, ao longo de seus governos, eram Amaro Lucio da Silva, Aldo Rosa e o jornalista José Carlos Soares, o Zico. Mais discretamente, em salas distantes do agito, estavam os professores Sergio Sachet e Celestino Secco e o engenheiro Marcos Rovaris.

Foi no meio desse entrevero que chegou lá o discreto empresário Ivo Hering. Após algum tempo de espera foi ele, então recebido pelo Governador que pessoalmente tinha solicitado sua presença. Ivo foi recebido com entusiasmo e muitos abraços e, na sequência foi perguntado sobre alguns assuntos de Blumenau, ouviu piadas, histórias sobre futebol e outras amenidades. Ao final, Amin agradeceu sua presença e disse que, em futura ocasião, queria falar com ele novamente. Ponto final. Ivo e alguns amigos que o acompanharam voltaram para Blumenau.

Meses depois ouvi de Ivo, na sua sala de trabalho na Companhia Hering, que ele nunca ficou sabendo o que Esperidião Amin queria com ele. Esse é um mistério que ainda persiste.

Próximo capítulo.

Na coluna da semana que vem vou relatar a transição de Esperidião Amin: de um político estadual, capaz e promissor, à condição de celebridade nacional. E de como a balburdia dos tempos de transição continuou firme no Gabinete do novo Governador.