Educação de Santa Catarina, uma grata experiência (I).
Capítulo anterior.
Com a renúncia de Jorge Bornhausen ao Governo do Estado em 1982, para se candidatar a Senador, e com a saída de diversos Secretários que disputariam vagas na Câmara e na Assembleia, houve uma renovação quase completa do primeiro escalão estadual. Nessa mexida, fui honrado com o convite para ser Secretário da Educação. Tive, então, a experiência de ter trabalhado, nesse cargo, sucessivamente, com dois governadores, convivendo com os estilos diferentes, assimétricos, de Jorge Bornhausen e Henrique Córdova.
A equipe, as viagens.
Quando assumi a Secretaria da Educação, imaginei que seria ótimo se pudesse contar, pelo menos nos cargos mais estratégicos e mais próximos da direção, com alguns dos craques que eu já conhecia do meu trabalho no GAPLAN, o Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral, no qual fui Chefe de Gabinete do Secretário Norberto Ingo Zadrozny. Mas, isso não foi possível porque o Governador Jorge já tinha acertado que haveria o mínimo indispensável de substituições nas diversas Secretarias já que os novos titulares dariam continuação a um mesmo Governo.
Afinal, não houve prejuízo. O time era bom. O Secretário Adjunto, Professor e Administrador João Aderson Flores, que vinha atuando com o antigo Secretário Antero Nercolini, supria minhas deficiências no conhecimento da estrutura interna do órgão e seu pessoal, e também do imenso universo da educação estadual.
Estava lá também a competentíssima Rosalir Demboski de Souza, que tinha sido minha aluna na cadeira de Planejamento Governamental que ministrei no curso de Administração Pública da UDESC. Ela já contava, na Secretaria, com um pessoal de alto nível.
Para minha assessoria, consegui levar o Professor Mauro Ângelo Lenzi, catarinense de Rio dos Cedros, intelectual eclético que eu conhecia desde São Paulo, formado em Filosofia e Teologia. Ele tinha uma redação impecável e grande capacidade de analisar situações complexas.
Foi um ano trepidante. Andei por quase todo o Estado, visitando as UCRES – Coordenadorias Regionais de Educação, que cumpriam um ótimo trabalho na descentralização das atividades educacionais. Lá eram ouvidos os eventuais problemas pendentes e, de lá mesmo, eram tomadas as providências para sua solução.
A enchente e a aventura do motorista.
Foi durante uma viagem dessas, em 1983, e no momento em que me reunia com nosso pessoal de Joaçaba, que me dei conta das dimensões diluvianas da enchente que castigava Santa Catarina.
Com o Rio do Peixe já fora do seu leito, invadindo as casas, entendi que era preciso voltar logo para Florianópolis ou, eventualmente, para Blumenau. Como já era difícil e demorado viajar por via rodoviária, pedi e consegui carona num avião que sairia em direção ao litoral, e orientei o motorista da Secretaria, creio que de nome Claudio, para procurar um lugar seguro e só seguir para a Capital quando o tráfego estivesse normalizado.
Voltei à Secretaria, os dias foram passando, e nada de Claudio aparecer. Movimentei contatos da Polícia Rodoviária e Defesa Civil, sem sucesso. Somente uns dez dias depois ele apareceu no trabalho, com o carro amarrotado e enlameado. Contou-nos que, apesar de minhas recomendações, tentou viajar já no mesmo dia em que saí de Joaçaba. Foi indo até onde deu, pernoitou na estrada, seguiu um pouco mais, e parou em Rio do Sul. Dali para frente não tinha como prosseguir – ele deu de cara com a maior enchente da história do Vale do Itajaí, particularmente tenebrosa em Rio do Sul. Pegou um hotelzinho já num lugar alto, mas também lá chegou a água, e assim igualmente no hotel seguinte. Sem mais qualquer abrigo e sem alternativa, tomou a decisão que nos foi assim descrita por ele: “então, garrei o alto do morro e lá fiquei”. Ficou morando no carro por quatro dias, até que percebeu que poderia ir adiante. Talvez uma pomba lhe tivesse levado uma folha de oliveira.
O General da Educação
Ainda no início do trabalho na Educação, tive uma audiência, em Brasília, com o Ministro da Educação Rubem Ludwig. Fui lá para me apresentar, mostrar alguns projetos que estávamos desenvolvendo e liberar recursos para o setor educacional do Estado. Cheguei bastante curioso em relação à personalidade do Ministro. Afinal, não é nada corriqueiro o País ter, na chefia dessa área, um General. No decorrer da minha vida acadêmica e política conheci outros oito ministros dessa pasta. Além de Ludwig, somente um era militar: o Coronel da Reserva Jarbas Passarinho que, porém, sempre foi visto mais como político do que militar: foi Governador do Pará, Senador e também Ministro do Trabalho e Ministro da Previdência. Ludwig nunca quis ser político. Era um General cumprindo uma missão civil que lhe foi designada.
O que me s surpreendeu foi que o General tinha se preparado muito bem para o exercício de seu novo posto. Ludwig mostrou-se perfeitamente a par de tudo que acontecia na Educação do País e, de acréscimo, muita coisa sobre Santa Catarina. Resolveu o que precisava ser resolvido, sem rodeios, sem firulas, como um bom General faria. E amável, observador, curioso, como um bom Ministro deve ser.
Próximo Capítulo.
Na semana que vem vou relembrar dois acontecimentos que, à primeira vista, podem parecer de menor importância, mas que elegi como dois fatos marcantes do meu trabalho. São duas historinhas bastante ilustrativas de como se pode economizar dinheiro público, e, também, em um dos casos, de como a burocracia consegue derrotar o bom senso.
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