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A imagem permite refletir sobre a condição na qual se encontra o ser humano na atualidade. Nela, observa-se um distanciamento voluntário entre pessoas que permanecem paradas à espera do trem. As tecnologias, sem dúvidas, levam o ser humano a uma “desumanização”.

A tecnicidade é capaz de infiltrar-se nos recônditos mais ásperos do curso natural das relações humanas, aquelas que são capazes de evocar “proximidade”. Mas a vida cotidiana, influenciada pelas tecnologias, acabou danificando aquelas relações saudáveis de outros tempos.

Uma cena muito diferente da do vagão do trem nos traz à luz a esperança da união e da confraternização: o quadro da Última Ceia, pintado por Leonardo da Vinci, reúne Jesus Cristo junto aos seus apóstolos. Todos eles entregam-se à confraternização, ao cuidado do próximo e ao compartilhar o pão e o vinho entre si. O ato de dar e receber gera um vínculo especial com o próximo.

Não é preciso ser religioso (eu não o sou) para compreender e assimilar um quadro tão simbólico e repleto de significados e ensinamentos enriquecedores. Tampouco é preciso ser religioso para confraternizar através de atos como este. Basta querer evocar a “proximidade” por meio de atos simples, que preenchem a alma.

A religião católica, apesar das suas polêmicas discursivas, as quais muitas vezes incidem de forma invasiva na consciência íntima do praticante a respeito do que é “bom” ou “mal”, subjugando-os a “pecadores”, entre outros adjetivos vituperantes, consegue ao menos trazer de volta aqueles atos mais simples que, por sua vez, suscitam um maior bem-estar. A própria etimologia da palavra “religião” é “religare” e significa “ligar novamente”. Conecta o indivíduo com o próximo e com a divindade.

Por outro lado, a nossa época revela algumas contradições inexplicáveis, residindo em maus hábitos que se normalizaram sem que nos déssemos conta. Graças ao uso das tecnologias, as relações humanas mais próximas de outros tempos transformaram-se em uma alienação sem precedentes, criando um paradigma em que a pessoa se sente cada vez mais isolada ou separada de si mesma e do seu entorno. Isso afeta negativamente a experiência humana, incluindo as suas emoções.

A palavra ‘isola’, em italiano, significa ‘ilha’. Não é à toa que o termo se encaixa perfeitamente com a situação atual, onde o ser humano habita, em qualquer lugar que esteja, a sua própria ‘ilha’. Daqui se intui a existência de um individualismo cada vez mais radical, impulsionado pelas novas condições sociais determinadas pelas tecnologias.

Há uma necessidade urgente de reflexão não apenas sobre os efeitos nocivos provocados por determinadas tecnologias a curto e longo prazo, mas também sobre alguns valores praticados nas sociedades atuais, que intensificam ainda mais a condição individualista em que vivemos, fomentando emoções negativas.