Governador Jorge Bornhausen em 1979

Introdução.

Quem tem acompanhado essas memórias da política catarinense, deve ter percebido que, até agora, não segui um caminho cronológico. Comecei lembrando a campanha de Vilson Kleinubing para Prefeito de Blumenau em 1988. A seguir dei um salto para 1999 quando, já no segundo mandato de Esperidião Amin como Governador do Estado, exerci o cargo de Secretário do Desenvolvimento Econômico. Relatei como, naquele período, a atual Arcelor-Mittal tomou a decisão de construir sua unidade em São Francisco do Sul, até então o maior investimento estrangeiro em nosso Estado. Depois, voltei para trás, com o episódio que testemunhei de perto, da Novembrada de Florianópolis em 1979, e mais algumas histórias do Presidente João Figueiredo. Esses relatos estão à disposição no site SC em Pauta.

A partir de agora vou, em regra, colocar as relembranças numa ordem sequencial. Neste recomeço, trato das origens: os primeiros acontecimentos que vivi ou presenciei na administração pública catarinense, a partir de maio de 1979, logo que aportei em Santa Catarina. Desde o início do ano, o Estado tinha um novo Governador: Jorge Konder Bornhausen.

Como este estranho veio parar no ninho de Santa Catarina.

Secretário-Chefe do GAPLAN, Norberto Ingo Zadrozny, ladeado pelo seu Chefe de Gabinete Paulo Gouvêa da Costa e o Presidente do TJ-SC João de Borba.

Para dar início ao relato das minhas primeiras experiências no governo estadual, é oportuno lembrar como foi que este gaúcho que vivia em São Paulo e, por algum tempo, morou nos Estados Unidos, veio parar em Florianópolis. Conforme já contei, o empresário blumenauense Norberto Ingo Zadrozny, meu sogro, tinha aceitado o cargo de Secretário-Chefe do Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral, o GAPLAN, no Governo de Jorge Bornhausen. Tentando se cercar de gente da sua confiança pessoal e com mais experiência do que ele nas coisas da política, pediu-me para retornar de Washington DC para auxiliá-lo na nova tarefa.

Á primeira vista, a ideia não me pareceu interessante. Minha vida estava consolidada em São Paulo. Lá, vivendo com a esposa Karin, eu tinha minha carreira de professor de Direito Constitucional das faculdades de Direito da USP e da Universidade Mackenzie, além de outras atividades como administrador e palestrante. Era para lá que eu deveria voltar quando terminasse o curso que estava fazendo nos Estados Unidos.

No entanto, era difícil dizer não para meu sogro e meu amigo. E como já concluíra o plano inicial de um Mestrado em Política Pública Internacional, a decisão de voltar era menos penosa. Naquela altura, já tínhamos três filhos pequenos, sendo uma das meninas nascida em Washington. Seria bom dar à criançada pelo menos, quem sabe, um ano de ar mais limpo e vida mais segura do que a de São Paulo. Combinei, então, com Dr. Ingo, que iria, sim, ajudá-lo naquele primeiro ano na administração pública. E acabei não voltando mais, em caráter permanente, para São Paulo como previra. Minha esposa e eu vamos lá, periodicamente, para rever amigos e curtir aquela cidade que é uma das melhores do mundo para se viver – enquanto se é solteiro, como eu era nos meus primeiros tempos paulistanos, ou ainda sem filhos como nos anos seguintes.

E fiquei, em definitivo, num dos melhores lugares do mundo para se viver em família: Santa Catarina.

Assim, tornei-me Chefe de Gabinete do Secretário Chefe do GAPLAN. Havia lá, nas várias “subchefias”, um timaço de primeiríssima linha: Sergio Sachet, Aroldo Joaquim Camilo, Francisco Mastella, Honorato Tomelin, Jairo Nunes de Souza, João Zanata, Lauro Salvador e Orlando Ferreira de Mello, mais a importante contribuição das supersecretárias Monika Muller, que Ingo levou de Blumenau, e Ethel Kretschmar que foi minha assessora lá e mais adiante, por muitos anos. Além desses e dessas havia o lendário Professor Alcides Abreu na Presidência da FATMA, o órgão ambiental do Estado, e Ubiratan Rezende e Antônio Carlos Kieling na direção do ITEP, o órgão técnico de planejamento. Na época tanto a Fundação como o Instituto eram subordinados ao GAPLAN.

Uma ideia brilhante, um programa exemplar.

Devido à grande abrangência das competências do GAPLAN, sobretudo na área orçamentária, fui obrigado, muitas vezes, a transitar por diversos setores do Governo. Enviado por meu chefe, o Secretário Ingo Zadrozny – que fazia um extraordinário trabalho na busca de novas fontes de energia e, na área internacional, garantindo investimentos para o Estado – lá seguia eu conversando e combinando estratégias com diversos secretários de Estado e dirigentes das empresas estatais. O Governador Jorge, percebendo em mim uma certa polivalência, incumbia-me às vezes de outras missões, não ligadas ao planejamento. Uma delas, muito prazerosa, foi a participação no grupo que implantou o programa chamado “Comandos Sociais” voltado para o município de Florianópolis.

A ideia inicial creio que foi do próprio Jorge ou do PFL Jovem, na época encabeçado pelo garoto Raimundo Colombo – que, anos depois seria Prefeito de Lages, Governador do Estado por oito anos, e Senador. O grupo executivo tinha Colombo como coordenador, o competente Procurador do Estado Salomão Ribas Júnior, e eu.

O programa atuava através de agentes comunitários que visitavam áreas carentes da cidade, verificando, com os moradores, suas principais necessidades. A seguir levavam, com o aval do Governador, as demandas para os órgãos públicos estaduais e municipais que, quase sempre, resolviam o problema. Os pedidos eram de todo gênero: lâmpadas queimadas nos postes, ausência de pessoal da segurança, má qualidade da merenda, buraco na rua, e centenas de outros. Como tudo era coisa relativamente pequena, embora muito importante para quem vivia no local, e o motivo das queixas era atacado de imediato, o programa foi um grande sucesso. Está aí, para os administradores do tempo atual, essa dica que vem de mais de quarenta anos no passado.

Governador Jorge falando aos agentes dos Comandos Sociais

Próximo capítulo

Ainda nos primeiros meses de trabalho no Governo do Estado fui personagem de duas situações inusitadas. O Governador do Estado Jorge Bornhausen e o Secretário Chefe do GAPLAN Ingo Zadrozny tinham viajado em missão oficial à Alemanha. Em consequência, fui empossado, pela primeira vez, em um cargo de primeiro escalão do Governo. E acabei, no cargo, cometendo uma gafe, digamos, diplomática. Mas, em outro caso, dei um palpite feliz. Resolvi um problemão do Governo. Estas duas interessantes historinhas vou contar semana que vem.