Nós como “produto” das redes sociais – Coluna do Vinicius Lummertz
Na coluna desta semana vou deixar um pouco à margem minha pauta central – que é o turismo como alavanca de uma “nova economia” e fator decisivo na felicidade e evolução humana – para abordar um tema que tem tudo a ver com nosso cotidiano e, assim como o turismo, com o futuro da humanidade. Mais do que um artigo filosófico, sociológico ou acadêmico, neste texto quero me dirigir a você e à sua família.
Muito se tem escrito e debatido, ao redor do planeta e no país, sobre o ‘O Dilema das Redes’ (Netflix), documentário que vem causando escândalo porque mostra de maneira nua e crua algo que há poucos anos seria um aterrorizante filme de ficção científica: as plataformas das chamadas “Big Techs”, como Google, Facebook, Instagram e Twitter, têm nos usado como “produto” para vender aos seus anunciantes – cujo objetivo é alcançar o maior número de pessoas dispostas a pagar por suas mercadorias. Quanto mais tempo passamos nas redes sociais, mais as Big Techs ganham, porque o que elas vendem ao anunciante é nada mais nada menos do que a nossa atenção.
Tendo como protagonistas ex-executivos das Big Techs – exatamente aqueles que criaram esse pesadelo real e hoje estão arrependidos – o documentário revela a tenebrosa engrenagem por trás de um negócio cujo grande segredo é a aparente gratuidade – não pagamos nada para ter os aplicativos. Mas assim como não existe “almoço grátis”, em algum momento estaremos pagando ao adquirir produtos que nos “aparecem” nas redes sociais, “coincidentemente” aquilo que há pouco tínhamos pensado em comprar. De acordo com os ex-executivos, eles criaram um monstro capaz de prever e influenciar o comportamento humano, impulsionando mudanças que podem não só nos fazer comprar o que eles querem, mas pior do que isso: podem até nos influenciar ideologicamente e fazer-nos votar nos candidatos que desejarem. Se você já viu isso na vida real, não é mera coincidência. É a Democracia em risco.
Ao longo da história a humanidade sempre soube resolver seus grandes dilemas. Porém, desta vez, o problema é muito mais complexo porque simplesmente não temos como abrir mão das redes sociais e aplicativos para onde transferimos a maior parte da nossa atividade. Entendendo essa complexidade, as liberdades que estão em jogo – e compreendendo as responsabilidades que as democracias têm de se salvaguardar, é preciso “reconfigurar” esse modelo de negócio perigoso. E que também é a indústria das fake news, fomentadora de conflitos, arrasadora de reputações e vidas; assim como um modelo de negócio que não paga direitos pela reprodução do noticiário produzido a custos altíssimos pelas empresas jornalísticas – e esta é a principal razão de estarem se extinguindo ao redor do mundo. Num plano mais local, considero minha responsabilidade, ao ocupar este valioso espaço na imprensa, alertar pais e famílias catarinenses sobre esse terrível vírus que ataca de forma epidêmica nossas crianças, jovens e adolescentes, transformando-os em robôs viciados. Esta é uma pandemia muito pior do que a do Coronavírus – porque mata silenciosamente nossa capacidade de ser humano.
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