O principio da corrupção
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Tem uma coisa curiosa no Brasil: a gente cria laço muito rápido. Você senta num bar, troca duas ou três histórias com alguém e, de repente, parece que se conhece há anos. Isso é legal, é cálido, é nosso. Mas aí vem o detalhe: no meio dessa simpatia toda, nasce um tipo de pacto não escrito. Do tipo “qualquer coisa, me chama, que eu resolvo pra você”.
No começo, pode ser só gentileza. Você pode conhecer alguém que trabalha no cartório, e da próxima vez que precisar de um documento, a pessoa “dá um jeito” e você sai de lá em dez minutos. Ou o amigo do amigo que conhece “o cara” que arruma “aquele problema” sem você ter que enfrentar a fila. É bom? Claro que é. Mas aí você percebe: esse “dar um jeito” é o mesmo tijolo que, junto com outros milhares, constrói o prédio da nossa corrupção cotidiana.
Na Europa, lugar onde atualmente resido, isso não acontece tanto. Não porque eles sejam santos, mas porque existe um muro invisível entre vida pessoal e função pública. O caixa do mercado pode ser seu vizinho de porta, mas não vai deixar você passar na frente só porque vocês tomam café juntos. Aqui, esse muro raramente existe. O “relaxa, eu resolvo pra você” é sinal de amizade. Mas também pode ser, muitas vezes, o principio da corrupção.
É aqui aonde reside o problema: quando pensamos em corrupção, imaginamos o político cometendo ações ilícitas com contratos milhonários. Mas isso é só uma parte história que, na verdade, começa muito antes, lá atrás, nessas pequenas concessões do dia a dia.
O difícil muitas vezes é dizer “não” quando alguém próximo oferece esse tipo de vantagem. Parece que você está sendo frio, ingrato. Só que, se parar pra pensar, talvez a verdadeira lealdade seja justamente tratar todo mundo igual. Não deveríamos puxar um pra cima às custas de puxar outro pra baixo.
Eu mesmo já aceitei alguns desses favores. Não vou fingir que nunca fiz. Mas, olhando pra trás, cada vez que escolhemos um atalho desses, é como puxar um fio da roupa: sozinho, não muda nada. Mas, um dia, o tecido inteiro se desfaz.
Talvez deveríamos mudar o que nós entendemos por amizade. Quem sabe um dia a gente possa tomar uma cerveja juntos, rir à beça e, mesmo assim, voltar pra casa sabendo que, se precisar de alguma coisa, vai enfrentar a mesma fila que todo mundo.
