Quando a dor de um povo justifica a dor de outro

“Palestina livre”. Esse é um clamor cujo eco ressoa com cada vez mais força em diferentes partes do mundo. Recentemente, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao defender a si próprio e ao Estado israelense, declarou que a expressão “Palestina livre” se assemelha ao grito de “Heil Hitler” durante o Holocausto.

A fala de Netanyahu, provavelmente, parte da percepção de que o povo judeu constitui uma das comunidades historicamente mais perseguidas do mundo, especialmente diante de séculos de antissemitismo que culminaram nas atrocidades do regime nazista e no Holocausto. Esses episódios trágicos fazem parte da memória coletiva da humanidade e do sofrimento vivido pelo povo judeu.
No entanto, esse sofrimento histórico, legítimo e reconhecido, não pode se converter em justificativa para uma cegueira ideológica. Quando membros de uma comunidade passam a enxergar sua própria cultura, valores e forma de vida como os mais corretos ou superiores, isso acaba configurando uma postura etnocêntrica. Nenhuma cultura é superior a outra. Todas as vidas humanas, onde quer que nasçam, são igualmente valiosas.
Em contraste com o ideal de dignidade universal, as medidas militares adotadas por Netanyahu após os ataques do grupo Hamas em 7 de outubro (que causaram a morte de mais de 2 mil israelenses) revelam uma resposta desproporcional em aras da visão etnocêntrica do seu povo. No esforço de eliminar completamente o grupo terrorista, as ações militares israelenses ultrapassaram os limites ético-legais, atingindo uma população civil vulnerável e inocente: o povo palestino.
Atualmente, estima-se que mais de 50 mil civis palestinos tenham morrido em menos de oito meses de conflito. Entre eles, cerca de 15 mil crianças perderam a vida sob intensos bombardeios na Faixa de Gaza. Esses dados são baseados em fontes verificáveis e independentes. Não se trata de manipulação midiática, mas de uma tragédia humanitária concreta.
O sofrimento de um povo não deve justificar o sofrimento do outro. O respeito à vida e à dignidade humana deve ser universal, sem exceções, sem hierarquias. Devemos ser conscientes que o que está acontecendo na Palestina é uma verdadeira catástrofe humanitária.
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