A audiência aconteceu no Auditório Deputada Antonieta de Barros, na Alesc (Foto:Giovanni Kalabaide)

Debater a participação de atletas registrados em outros estados nas competições coordenadas pela Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte) e fortalecer as modalidades locais. Esse foi o tema de audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa na manhã desta quarta-feira (21).

Atualmente, algumas competições como a Olimpíada Estudantil Catarinense (Olesc) e os Joguinhos Abertos e Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) permitem participação limitada de atletas de outros estados e estrangeiros, mesmo que não estejam atuando em Santa Catarina. No entendimento do propositor da audiência, deputado Mauro De Nadal (MDB), o atual cenário pode comprometer o desenvolvimento dos atletas locais.

“Representantes que nos procuraram argumentam que a presença de atletas de outros locais não só compromete a valorização do atleta catarinense, mas acaba desestimulando a formação de base”, destacou. “Precisamos debater essa situação com todos os setores envolvidos, ouvindo atletas e representantes das entidades desportivas. Santa Catarina é uma potência só que, neste cenário, muitos treinam diariamente para representar o estado e ficam pelo caminho”.

Na abertura da audiência, Nadal ainda citou que em abril deste ano foi aprovado um projeto de lei de sua autoria (lei 19.295/25), que passou a restringir a participação de atletas de vôlei de praia vinculados a federações nacionais ou internacionais que não tenham sede em Santa Catarina em competições organizadas pela Fesporte.

Continuidade em política do esporte
O deputado Fernando Krelling (MDB) apontou para a falta de continuidade na política adotada pelo Estado em relação ao esporte catarinense. “Esse é um espaço para uma discussão importante, mas é necessário fazer uma reflexão. Tivemos oito presidentes da Fesporte nos últimos cinco anos. Como vamos dar continuidade em projetos se trocamos o comando de seis em seis meses?”, disse, acrescentando que uma eventual restrição a atletas de fora deve vir acompanhada de investimentos. “O esporte catarinense está crescendo e avançando, possuímos atletas de alto rendimento, mas é preciso pontuar, por exemplo, se os municípios continuarão investindo na formação dos jovens”.

Atletas relatam falta de estímulo
Representantes de federações esportivas e atletas argumentaram que a participação de “atletas estrangeiros”, sem nenhuma ligação com os municípios que representam, acabam comprometendo o rendimento do esporte local.

O técnico Fabrício de Souza, representante da Federação de Karatê de Santa Catarina, apontou que o atual cenário acaba desestimulando atletas locais, principalmente aqueles que participam da Olesc. “Nesta fase da vida, o atleta tem que dosar as demandas de faculdade, trabalho e família. Daí ele chega para competir um profissional que treina seis ou sete horas por dia e ainda recebe para representar um município”

Souza pontuou que Santa Catarina revela grandes atletas e citou o tricampeão mundial da modalidade, Douglas Brose, formado em Florianópolis. “Precisamos fomentar quem é daqui. Muitas vezes o atleta de fora nem pisa na cidade e vai embora levando medalhas sem deixar um legado”, disse. “O nosso atleta fica sem medalha e não conseguimos mais manter esse jovem estimulado para competir”.

“O raciocínio de trazer atletas de fora para essas competições e não investir nos nossos é absurdo”, afirmou Carlos Camargo, representante da Federação Brasileira de Esportes Aquáticos. “O que acontece é que perdemos potenciais competidores na sequência. Temos uma nadadora joinvilense que foi convocada para a seleção brasileira representando o Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte (MG)”.

Pelo regulamento atual está autorizada a inscrição de até dois atletas de fora em modalidades como basquetebol, bolão 16, bolão 23, futebol, futsal, handebol, punhobol e voleibol de quadra. Em modalidades como atletismo, basquete 3×3, beach tennis, bocha, boxe, karatê, ciclismo, ginástica artística, ginástica rítmica, jiu jitsu, judô, natação, remo, surf, tênis, tênis de mesa, tiro armas curtas, tiro armas longas, tiro ao prato, taekwondo, triathlon e xadrez, é permitida a participação de até um atleta de fora de Santa Catarina.

Participam da audiência pública o presidente da Fesporte, Jeferson Ramos Batista, e o presidente do Conselho de Esportes de Santa Catarina, Fernando dos Santos Hackradt, assim como secretários municipais de esporte e atletas.

Batista ressaltou um aumento expressivo nas inscrições de atletas em todos os eventos realizados pela Fesporte e destacou que serão investidos R$ 100 milhões na área. “Importante esse debate com todos atletas e dirigentes para que possamos continuar transformando Santa Catarina em uma potência do esporte”.