Na busca constante por curtidas e reconhecimento nas redes sociais, estamos repetindo o destino trágico de Narciso: presos à imagem que mostramos — e sem conseguir enxergar quem realmente somos.

A mitologia grega nos traz histórias que continuam fazendo sentido até hoje. Um bom exemplo é a de Narciso — um jovem muito bonito que, ao ver seu próprio reflexo na água, se apaixonou por si mesmo e ficou ali, parado, até morrer. Ele não conseguia amar mais nada além da própria imagem.

Apesar de ser uma história antiga, ela combina muito com o que vemos no mundo de hoje. Vivemos em uma época em que mostrar a própria imagem virou algo comum. Com as redes sociais, câmeras no celular e filtros que deixam tudo mais “bonito”, qualquer pessoa pode criar uma versão ideal de si mesma e compartilhá-la com o mundo. Mas será que vale a pena?

Como Narciso, muitas pessoas acabam se encantando com a imagem que constroem de si mesmas online. A autoestima, que deveria vir de dentro, passa a depender do que os outros pensam. Quando as curtidas, os comentários e os seguidores não aparecem como esperado, vêm a frustração, a dúvida e até a tristeza.

A Associação Americana de Psicologia (APA) diz que todos temos um pouco de narcisismo. Gostar de um elogio, querer reconhecimento — isso é normal. Mas quando essa busca se torna exagerada e constante, pode virar um problema. O narcisismo em excesso não é um amor grande demais por si mesmo, como muitos pensam. Na verdade, é um sinal de insegurança profunda, que precisa do olhar dos outros para se sentir melhor.

Na internet, isso tudo fica ainda mais forte. Postar uma foto ou uma opinião já não é só uma forma de se expressar — vira quase uma apresentação, uma performance. A pergunta deixa de ser “eu gosto disso?” para virar “os outros vão gostar?”. A autoestima vira refém da opinião alheia. E, mesmo quando vem a aprovação, ela dura pouco e logo queremos mais. É como uma fome que nunca passa.

Esse comportamento tem consequências reais. Pesquisas mostram que o uso exagerado das redes sociais está ligado ao aumento da ansiedade, da depressão e de problemas com a autoimagem, principalmente entre os mais jovens. Como manter uma identidade saudável se ela depende o tempo todo da aprovação dos outros?

A história de Narciso nos mostra que o problema não era só ele amar a própria imagem, mas sim não conseguir ver além dela. Ele ficou preso no reflexo e esqueceu de viver. Hoje, com nossas telas e redes sociais, corremos o mesmo risco — de trocar relações verdadeiras por curtidas, e a verdade por aparência.

Esse texto não é uma crítica ao uso da internet, mas um convite à reflexão. Como estamos cuidando do nosso amor-próprio na era digital? Narciso morreu olhando para sua imagem. Que a gente não se perca, aos poucos, olhando para uma tela.