(Divulgação PMSC)

Uma discussão trivial entre um trabalhador e uma mulher de 19 anos dentro de um bar no Bairro Morro do Meio, em Joinville, resultou na maior chacina da história recente de Santa Catarina, envolvendo sete mortes na noite de 8 de janeiro de 2023. Mais de dois anos depois, os 10 acusados sentaram ontem (15) pela primeira vez no banco dos réus do Tribunal do Júri da Comarca de Joinville, todos acusados de sete homicídios qualificados, formação de quadrilha, tentativa de homicídio (três sobreviveram) e sequestro. A principal personagem não está entre eles: a responsável pela organização criminosa na região, chamada de “disciplina”, jamais foi localizada. Ela teria sido condenada à morte por ter cometido o “erro” de ter autorizado a “vingança”.

Trabalhadores braçais

Recrutados por uma empresa de Joinville que prestava serviços terceirizados de poda de árvores, o grupo de trabalhadores morava em uma casa alugada no bairro Morro do Meio. Além do alojamento, o imóvel era utilizado também como depósito e refeitório. Todos moravam nas cidades paranaenses de União da Vitória e Palmas e nenhum tinha envolvimento com a polícia, muito menos com organização criminosa. Naquela noite de descanso, um deles foi até ao bar próximo e teria dito tentado se envolver com uma mulher de 19 anos, companheira de um líder de uma facção criminosa. Ao tomar conhecimento do assédio, ele chamou mais oito integrantes de sua organização criminosa e foram até ao alojamento.

Primeira morte

Ao entrarem de surpresa no local, o grupo armado encontrou o acusado de assédio na cozinha. Ao ser identificado pela mulher, ele foi prontamente degolado. A “disciplina” da facção ordenou que não deixassem testemunhas. Dos 10 moradores, três dos mais idosos estavam tomando chimarrão do lado de fora e pularam o muro após perceberam a invasão. 

Corpos carbonizados

Antes de incendiarem o alojamento, cerca de duas horas antes, os acusados comeram o assado que estava sendo preparado para o jantar. Os três que haviam fugido retornaram ao alojamento depois que perceberem certa normalidade lá dentro. Foram amarrados e colocados em um carro que servia de transporte para o trabalho. Seis colegas já estavam mortos a tiros e foram levados em outro carro para um local escondido dentro de uma mata, onde seus corpos foram carbonizados antes do amnhecer.

Falha mecânica salvou três vidas

Os três que haviam fugido foram levados para outro local onde seriam executados. No caminho, o Fiat Uno da empresa teve um problema mecânico. Eles ficaram com as mãos amarradas. Antes dos executores retornarem em outro carro, os três conseguiram fugir e entraram em Guamiranga, interior de Guaramirim.  Um deles – a sétima vítima – ficou perdido e foi encontrado e assassinado. 

Curtas 

– Cada região conta com um líder chamado de “disciplina” na hierarquia da facção. Ele ou ela toma as principais decisões da organização. No caso do Morro do Meio, a disciplina decidiu eliminar as testemunhas e incendiar a casa.

– Como houve uma grande mobilização policial nas semanas seguintes no bairro, impedindo a venda de drogas, a cúpula da facção teria condenado à morte a disciplina, cujo corpo jamais foi encontrado.

– Os seis trabalhadores braçais foram executados dentro do alojamento, desarmados, sem nenhuma condição de defesa.