A pressão silenciosa sobre os jovens

Em 2023, a comunidade científica vem revelando dados estatísticos relacionados à saúde mental das gerações Millennial (pessoas nascidas de 1986 a 1995) e Z (pessoas nascidas a partir de 1996). De acordo com a IPSOS, 65% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos relataram sofrer de ansiedade, enquanto 19% afirmavam ter depressão. Esses números caem drasticamente para as gerações anteriores. Mas essa realidade não afeta somente o Brasil. Alguns dados científicos da Espanha, país onde resido, também revelam resultados semelhantes, como o caso da “FAD Juventud”, que em 2023 apresentou um informe indicando que 60% dos jovens menores de idade enfrentaram problemas psicológicos no território espanhol. Infelizmente, tais resultados parecem aumentar a cada ano. Uma realidade que nos coloca diante da chegada de uma nova “epidemia”, que vem emergindo nas sociedades de forma quase incompreensível, imperceptível a olho nu e, portanto, silenciosa. E é aqui que reside o perigo.

Mas por que os mais jovens? Compreender as razões dessa recente “epidemia”, que afeta sobretudo as últimas gerações, sem dúvida não é uma tarefa fácil. Muitas vezes, aqueles que tentam compreendê-la acabam não encontrando razões suficientes para justificar tanto mal-estar. No fim, acabam rotulando esses jovens de “preguiçosos”, “frágeis” ou “incapazes de enfrentar as adversidades da vida”. Para quem pensa assim, os argumentos se baseiam no fato de que todas as gerações vivem nas mesmas cidades, frequentam os mesmos supermercados, usam os mesmos transportes e ocupam os mesmos empregos — e, portanto, enfrentariam as mesmas dificuldades. Concluem que todos nós, independentemente da idade ou da época, estamos no mesmo “saco”.
Isso pode ser verdade. Todos estamos submetidos a determinadas pressões e dificuldades. Mas a forma como essas pressões são construídas, percebidas e interiorizadas ao longo das décadas mudou radicalmente.
Nas décadas passadas (especialmente para os baby boomers e a geração X), as pressões sociais eram claras, diretas e provinham principalmente de fontes externas. A família e a religião esperavam que o sujeito estudasse, conseguisse um emprego estável, se casasse, tivesse filhos e comprasse uma casa. Essas regras tinham um significado claro e completo. Ou seja, era fácil compreendê-las. Mas, ao mesmo tempo, eram rígidas e deviam ser cumpridas. Não havia muitas alternativas. De certa forma, era mais fácil encontrar um sentido para a vida, justamente porque esse sentido já vinha pronto. A pessoa não precisava buscá-lo: ele era entregue, quase como um manual.
Hoje, o cenário mudou para as últimas gerações (Millennials e Z). As pressões não deixaram de existir para esses jovens. Mas tais exigências chegam de forma difusa, pouco clara e inatingível, travestidas de uma linguagem positiva: “Seja a sua melhor versão”, “tenha um propósito”, “viva o presente”, “seja livre”. Podem ser palavras inspiradoras, mas que carregam um peso imenso. Pois, hoje em dia, cada um desses jovens deve resignificar sozinho o que é viver “com propósito”, o que é “ser autêntico”, o que é de fato ter “sucesso”. Dessa forma, a responsabilidade é deslocada para o interior de cada um. São os jovens quem exercem pressão sobre si mesmos. Essa pressão interna se traduz como uma forma de violência que eles exercem sobre si mesmos, na busca pelo sentido da vida. Disto se explicaria os altos índices de problemas psicológicos que afetam sobretudo as últimas gerações.
As redes sociais também jogam um papel essencial, pois nela se intensificam as comparações com milhares de perfis idealizados, editados, filtrados. O resultado é uma geração que vive uma liberdade esmagadora — a de ter que escolher tudo sozinha, o tempo todo, e ainda acertar. O medo de “ficar para trás” é tão real quanto qualquer cobrança direta.
Falar sobre isso é urgente. Compreender essas novas formas de sofrimento não é passar a mão na cabeça. É reconhecer que vivemos em tempos complexos, em que as batalhas mais duras muitas vezes ocorrem em silêncio, dentro de cada um.
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