Como Vilson Kleinubing se tornou prefeito de Blumenau (IX)

A consolidação da provável vitória


Os ingredientes todos da campanha – talento comunicativo de Kleinubing, grandes públicos nos comícios dele e do Vice Victor Sasse, programa de TV muito bem planejado e executado, com adequada dosagem de mensagens sérias e coerentes com doses de bom humor, trilha musical de alta qualidade – tiveram o resultado inevitável: o aumento expressivo das intenções de voto.
A presença dos filhos e da esposa na rotina da cidade, a simpatia e empatia de Vera Karan Kleinubing, a identificação fácil de Vilson com o jeito de ser dos blumenauenses, ajudou muito no fato – no qual, àquela altura a grande maioria queria muito acreditar – de que ele já era um político “de Blumenau”.
Enquetes nas ruas revelam uma provável goleada

Tão logo tivemos a comprovação dessa onda através das pesquisas, começamos a fazer enquetes públicas e filmá-las. Eram realizadas de maneira aleatória, com pessoas que passavam nas ruas, que embarcavam ou desembarcavam nos terminais dos ônibus urbanos, ou, ainda, saindo ou entrando do trabalho nas fábricas e no comercio. Na TV eram mostradas todas as respostas – a favor de Kleinubing e também a favor de outros candidatos. Ao final, era apresentado o placar do dia que, invariavelmente, mostrava grande vantagem para ele.
Essas amostragens faziam muito sucesso. Era, por certo, um fato inédito que o programa de um candidato apresentasse manifestações de voto também em favor de seus adversários.
Tudo isso aumentava nossa confiança numa vitória expressiva. Tinha sido superada a conversa sobre a” importação” do candidato, não existia mais na mente dos eleitores a associação da imagem de Vilson com a condição de “forasteiro”.
A possível falha e uma solução fora do comum

À essa altura, ocorreu outra decisão importante. Numa das reuniões diárias dos coordenadores da campanha, em que examinávamos um programa de TV anterior, observei que a maneira como eram mostradas as declarações de voto feitas naquelas enquetes, contra e a favor de Kleinubing, poderia gerar uma dúvida na cabeça das pessoas: aquilo não poderia parecer uma montagem?
Minha avaliação se baseava no fato de que era visível que havia cortes entre as diversas cenas de entrevistas. Achei que um formato sem quaisquer interrupções, mostrando todo o deslocamento das nossas câmeras e do nosso repórter, geraria mais credibilidade. O marqueteiro Hiram disse então que isso a que eu me referia, chamava-se “plano sequência”, coisa rara de ser feita em filmagens desse tipo porque, sem fazer cortes, poderiam ser captados vários ruídos, inclusive alguém dizendo um desaforo, fazendo careta, essas coisas.
O Plano Sequência, segundo a definição convencional, “é uma técnica audiovisual em que uma cena é apresentada sem cortes, geralmente para acompanhar o personagem a partir de uma única perspectiva e ao longo de toda uma ação”.
“Plano Sequência”, um instrumento demolidor

Após alguma discussão, a tentativa foi aprovada. As filmagens passaram a ser feitas com absoluto realismo.
O repórter, sem identificação, se deslocava, às vezes com alguma dificuldade, com o operador da câmera atrás, até abordar alguém e pedir licença para uma breve enquete. A maioria concordava. As perguntas e respostas iam sendo dadas, o cinegrafista continuava filmando, sem paradas ou intervalos, até atingir um bom número de entrevistas. Isso se repetia mais algumas vezes em diferentes áreas da cidade.
À noite as filmagens iam ao ar. E apareceu mesmo uma cena em que alguém falou “Kleinubing não, forasteiro não”. Como, porém, o apoio a ele era dominante e muito animado, todos esses planos-sequência foram ao ar. E continuaram a ser exibidos em programas seguintes.
O efeito foi estrondoso. Foi algo avassalador. Mortal. Ficou evidente que havia muita gente espontaneamente manifestando sua preferência pelo nosso candidato.
Próximo capítulo
Uma nova ameaça: a hipótese do “trampolim”.
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