Como Vilson Kleinubing se tornou prefeito de Blumenau (VII)

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No capítulo precedente registrei a reunião do candidato com alguns dos principais empresários de Blumenau, sobre os recursos para a campanha. O orçamento foi integralmente aprovado, com duas condições: 1) que Vilson fosse um bom Prefeito, trabalhando muito pela cidade; e 2) que nosso comitê não aceitasse contribuição adicional alguma, de pessoa ou empresa.
No entendimento daquele grupo de industriais – que não precisavam da Prefeitura para coisa alguma – era indispensável que Kleinubing ficasse liberto de quaisquer vínculos (por exemplo, com empreiteiras, loteadores, empresas de ônibus, prestadores de serviços, o que fosse) para fazer livremente tudo o que fosse melhor para Blumenau

Aconteceu então um caso raríssimo na história política: uma campanha eleitoral que recusou inúmeras doações, fosse de quem fosse, viesse de qual fosse o doador.
No palanque

Equacionadas as questões operacionais e administrativas da campanha, Vilson foi para o palanque. Ele gostava muito de falar com o público. Na verdade, gostava de tudo que fazia parte de uma campanha eleitoral, mas, o melhor mesmo, para ele, era a hora de falar abertamente com os eleitores, presencialmente. Com essa vocação e com o talento oratório adquirido na campanha para Governador em 1986, foi fácil livrar-se dos fantasmas que rondavam sua trajetória rumo à Prefeitura.
A assombração da falta de autenticidade blumenauense
Naquele momento da campanha, a mais preocupante entidade do além ainda era a pecha de “forasteiro” que os adversários tentavam colar na sua imagem: alguém, sem vínculos com a cidade, trazido de fora para ser o Prefeito. Mas, não era assim que os blumenauenses viam Kleinubing.

A essa altura ele já estava bem instruído pelo seu marqueteiro, o craque Hiram Pessoa de Melo, quanto à necessidade de aplicar a “vacina política”: antecipar-se, tomar a iniciativa de abordar o assunto incômodo. Conforme Hiram, “a antecipação desarma a armadilha adversária”.
Para os programas de TV que viriam mais tarde havia várias doses preparadas desse imunizante. Mas, Vilson aproveitava também os comícios e outras reuniões com eleitores para já ir aplicando o antídoto.
Brincando com o problema
Muitas vezes, ele abria o discurso brincando com sua condição de blumenauense novato. Dizia: “Sempre preciso vir aos comícios com alguém de Blumenau, se não, posso me perder no caminho”. E o povo achava graça e aplaudia. “Eu ainda não conheço muito bem a cidade”, continuava ele. “Mas, sou bom aluno, aos poucos vou aprendendor. E os problemas que precisam ser resolvidos aqui, estes já sei de cor”. Na sequência, dizia o que precisava fazer naquele bairro e na cidade.
Os atentos ouvintes gostavam da franqueza dele, do seu jeito de falar, e do tiro certo que ele desfechava nos problemas que os incomodavam.
Um talento: o bate-papo com grandes plateias

Havia uma particularidade na maneira de Vilson Kleinubing discursar: ele não discursava. Não no sentido ainda vigente na época de elevar e empostar a voz, às vezes de um modo tremelicante, usando palavras muitas vezes incompreensíveis para a maioria dos que assistiam a um comício. Ele não fazia discursos, ele conversava com o povo. Em tom coloquial, ia falando de si mesmo, das pessoas de Blumenau, da cidade, de seus planos. Sempre dizia que ao Vice-Prefeito, ali a seu lado, ele “entregaria a chave do cofre”. Sasse seria Secretário das Finanças.
One in a crowd

Dez anos mais tarde, já no século seguinte, portanto, este estilo de oratória praticado por Vilson foi amplamente utilizado e universalizado por Barak Obama. Na eleição americana que colocou o primeiro negro na Presidência, Obama usava o mesmo modo coloquial de discursar. E incluía um ingrediente a mais: transmitia a impressão de que, durante sua fala, se dirigia individualmente às pessoas presentes.
Ele até hoje usa este método: vai sucessivamente encarando alguma pessoa na plateia de modo que cada uma delas vai achar que foi objeto de uma atenção pessoal do orador. A essa técnica foi dado o nome de “um, na multidão”.
Kleinubing, talvez ainda sem consciência disso, já fazia uso dessa mágica para encantar o público de seus comícios e reuniões.
No próximo capítulo

Kleinubing na TV, na cabeça do eleitor, e no einsbein do Tonet.
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