Vilson Kleinubing, com Danker, no Interior da Vila Itoupava

Em homenagem ao meu amigo Helmuth Danker (foto), que faleceu poucos dias atrás, resgato hoje, lá dos arquivos da lembrança, uma pérola ocorrida na campanha de Vilson Kleinubing para prefeito de Blumenau.  Em certo momento, programamos uma reunião com eleitores da Vila Itoupava, distrito de Blumenau que dista 25km do centro da cidade. Na verdade, o pequeno comício seria no Interior da Vila, acho que no Braço do Sul, mas, não garanto. E foi Helmuth Danker quem capitaneou o grupo lá para aqueles recantos onde um grupo de pessoas queria conhecer o candidato Vilson Kleinubing. 

O início do encontro me deixou perplexo. Danker abriu os trabalhos com a seguinte questão: “temos que decidir se a conversa vai ser em português ou alemão”. E então, perguntou ele, “precisamos saber quem aí da plateia não fala alemão?”. Uma meia dúzia levantou o braço. “E agora; quem, não fala português?”. Então mais de 30 pessoas levantaram o braço. “Pronto”, disse Danker, “resolvido, vamos todos falar alemão e eu sirvo de tradutor para nosso candidato”. Assim foi feito. E Vilson que costumava dizer que, de alemão, ele não sabia nem abanar, fez, com a ajuda de Danker, grande sucesso. Na eleição levou quase todos dos votos daquela localidade.  

Danker, uma história admirável

Serraria Danker na rua Franz Danker, em 1867. Vila Tur (Foto O Município Blumenau)
Resultado da eleição de Danker para Intendente da Vila Itoupava. Gráfico (Vila Tur) publicado pelo jornal O Município Blumenau

Helmuth Danker teve uma vida cheia de percalços e desafios. Conforme relatou o jornal O Município Blumenau, a família de Danker e ele próprio, não falavam português. Com a crescente implicância do Governo de Getúlio Vargas com os alemães que viviam no Brasil e seus descendentes, ele foi enviado, com 12 anos, para o Rio Grande do Sul com o objetivo principal de aprender português. Voltando para a Vila, trabalhou na roça e na serraria do pai até os quarenta anos. Mais tarde foi funcionário da empresa Haco. Na administração pública teve o cargo de Intendente da Vila Itoupava (uma espécie de subprefeito para aquela região) na administração de Curt Zadrozny, por nomeação, e também na de Kleinubing e Victor Sasse, nesta ocasião por voto popular. Ele foi dirigente e afinal Presidente do Hospital de Misericórdia, da Vila Itoupava, por mais de meio século. Acima de tudo, era um grande blumenauense. 

Minha estreia nos palanques

A campanha presidencial de 1955 teve como principais candidatos três importantes personagens da história do Brasil: Juscelino Kubistchek (PSD-PTB), de Minas Gerais, médico, policial militar e Governador do Estado; Juarez Távora (UDN-PDC-PL), cearense, General do Exército, Ministro da Agricultura e dos Transportes; e Ademar de Barros (PSP), paulista, médico e empresário, duas vezes Governador do seu Estado. 

Guri pequeno lá na minha Cachoeira do Sul, RS, eu já me interessava pelas coisas da política. A tal ponto era essa minha predileção, que meu pai, na época presidente do PSD local, me levou para o comício de Juarez Távora que, curiosamente era o candidato da UDN, nacionalmente adversária do PSD. No Rio Grande do Sul, como já relatei em outra ocasião, os alinhamentos partidários eram diferentes. E assim estava eu, contente da vida, no palanque, ao lado de Jânio Quadros, Prefeito e Governador de São Paulo, que lá estava para apoiar Juarez, já pensando em sua próxima candidatura a presidente.

Janio. Foto Câmara dos Deputados

Um pedacinho criativo de campanha

Atento ao que saia na imprensa sobre a eleição, chamou minha atenção, certo dia, algo que apareceu na primeira página do “Jornal do Povo” (até hoje firme, com edição impressa, inclusive) de Cachoeira do Sul: um enigmático quadro contendo apenas uma palavra, grafada de um modo estranho: “mAr.” Depois de algumas discussões e palpites, o mistério foi desvendado: aquela palavra, escrita desse modo, significava que o “A de mAr é o maior”. Coisas do marketing de quase 70 anos atrás. Embora Ademar não fosse o candidato da preferência da minha família, tenho de reconhecer que sua campanha foi bastante criativa.

Próxima coluna

Sem contar com seu diplomático intérprete nipônico na comitiva (cujo desempenho relatei na coluna anterior), o governador Amin viu-se num enrosco danado, numa viagem à Alemanha.