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Na semana passada descrevi os fatos, ligados à cisão PDS-PFL, que desaguaram no desentendimento partidário entre Jorge Bornhausen e Esperidião Amin. Tratei também da obra de edificação do novo Partido da Frente Liberal aqui no Estado, tarefa em que Jorge recebeu contribuição valiosa de alguém, como ele, herdeiro da UDN: Vilson Kleinubing. 

Errata

No mesmo relato, juntei ao conjunto de fatores que afastaram partidariamente Amin de Bornhausen, a suposta circunstância de que a família de Esperidião “no passado, militara no antigo PSD”. Erro meu. Graças ao reparo feito, gentilmente e pessoalmente, por Dr. Jorge, faço a correção: a família de Esperidião também atuava nas hostes udenistas. Os demais motivos, lá expostos, da divergência de filiações partidárias, estão corretos. 

Os efeitos colaterais na minha vida

O desmembramento do antigo PDS em dois, criou, no meu caso particular, um grave dilema político-partidário e pessoal. Este era o meu partido. Nele estava o Governador Amin a quem eu servia, naquela época, como secretário da Administração, e com quem tinha bom relacionamento. Do outro lado estava o ex-governador Jorge Bornhausen de quem fui secretário-adjunto do Planejamento e secretário da Educação. Ambos, chefes com quem eu mantinha vínculos de amizade e companheirismo, e a quem devia lealdade. Mais a Jorge do que a Esperidião, mas, de qualquer forma, aos dois. 

Esperidião desejava que eu permanecesse no PDS, Jorge me chamava para o PFL. O ambiente em Florianópolis começou a ficar embaraçoso.

decisão de não ficar

Jornal O Estado (de Florianópolis), edição de 29/05/1985

Apesar da minha satisfação pessoal com o trabalho na Secretaria e da ótima ambientação da minha esposa e dos meus filhos em Florianópolis, resolvi tomar o rumo de Blumenau. Pesando os prós e contras dos possíveis alinhamentos partidários, aqui ou acolá, optei pela neutralidade. Renunciei ao cargo de secretário, mas, não me filiei ao PFL. E mudei-me com a família para a cidade natal da minha esposa Karin, onde me esperava, já há bastante tempo, um cargo de direção na empresa da qual meu sogro era um dos sócios.

Meu mais antigo alinhamento partidário

Juscelino, Juarez e Adhemar de Barros
Jânio, Lott, e, de novo, Adhemar

Ad latere, uma indagação. E uma resposta um tanto enigmática para os padrões catarinenses. A pergunta: qual era, lá no Rio Grande do Sul, ao tempo de PSD e UDN, o partido das minhas simpatias? Este questionamento poderia receber uma informação fácil e objetiva: meu pai era filiado ao PSD e foi seu presidente na nossa cidade de Cachoeira do Sul. Logo, embora ainda sem idade para uma filiação própria, este era, por herança, o meu partido. 

Tal declaração, porém, não significava, para os gaúchos, a mesma coisa que para os catarinenses e, de resto, para todos os demais Estados do Brasil. Nacionalmente, o PSD era um partido getulista que se aliava, à esquerda, com o PTB, e que apoiou, claro, os seus próprios candidatos, como Juscelino Kubistchek em 1955, e cinco anos depois, o General Henrique Teixeira Lott. No Rio Grande, os candidatos apoiados pelo PSD foram, na primeira eleição, o General Juarez Távora e, na segunda, Jânio Quadros, ambos integrantes de coligações lideradas pela UDN que concorriam contra o PSD. Na eleição seguinte que se avizinhava, os pessedistas gaúchos já estavam galopando no rumo do apoio a Carlos Lacerda (Governador do Estado da Guanabara, filiado à UDN), ignorando a indicação da direção nacional do partido de apoio a uma nova candidatura de Juscelino. Por estas e outras o PSD gaúcho recebera a alcunha de “PSDD”, o PSD Dissidente. 

Lá mais ao Sul, a UDN era um partido pequeno, aliado habitual do PSD junto com PL (Partido Libertador, de Raul Pilla, Paulo Brossard e outros intelectuais e acadêmicos gaúchos), PRP (integralista, mais à direita), PDC e outros, formando a chamada “Frente Democrática”. No Rio Grande, suas próprias e históricas características bipolares forçavam que todo mundo se juntasse à direita, para combater o fortíssimo PTB de Getúlio, João Goulart e seu cunhado Leonel Brizola. 

Então, quando já em Santa Catarina, alguém perguntava, pela ótica catarinense, se eu torcia por UDN ou PSD, eu respondia, pelo ângulo gauchesco, que, embora parecesse estranho, eu sempre torci pelos dois. 

O início da sequência de fatos que levaram à candidatura de Kleinubing em Blumenau

Chamada de capa do JSC de 02/06/1985
Entrevista publicada no corpo da edição do JSC de 02/06/1985

Sem entrar novamente no conjunto de eventos que resultaram no lançamento de Vilson Kleinubing a prefeito de Blumenau – que já relatei nos primeiros capítulos dessa série de memórias políticas – registro a circunstância de que nada daquilo talvez ocorreria se eu não tivesse decidido mudar o acampamento de Florianópolis para Blumenau. Foi no barco das consequências dessa transferência que me tornei amigo (e companheiro de planos políticos) de diversos importantes empresários de Blumenau. E no rastro dessas remadas do destino me vi envolvido na coordenação de um projeto que visava a escolher um candidato capaz e competitivo para encerrar os vinte anos de domínio do PMDB na prefeitura da cidade. 

Em um jogo de xadrez, algumas vezes, um mero peão acaba tendo bastante importância.

Próxima coluna: pausa para recreio

No decorrer desses vários meses em que me dediquei a relatar episódios, em geral sérios, da política catarinense, ficaram de lado alguns momentos e algumas manifestações que talvez não sejam tão importantes, mas que, de algum modo, são interessantes. E por certo mais leves e divertidos. Passarei a resgatar esses fatos fora da curva e contá-los na próxima coluna, e mais adiante.