Política no Brasil: quando a emoção é mais importante do que a verdade
A ascensão da extrema-direita, tanto no Brasil quanto no mundo, provocou uma reviravolta profunda nas dinâmicas políticas, gerando fenômenos como a polarização e a disseminação de informações falsas (fake news e deepfakes) por meio de plataformas digitais. Esses fatores contribuíram para acentuar ainda mais a ruptura nas sociedades.
Apesar dos esforços de todos os setores da política brasileira, tanto da esquerda quanto da direita, para convencer seus adversários de que suas ideias são corretas e verdadeiras, parece que, após anos de ruptura ideológica, esse esforço foi em vão. Nenhum partido demonstra a menor motivação para reconhecer a validade das propostas de seus oponentes.
Assim, não há perspectivas de que a polarização política na sociedade brasileira avance em direção a um consenso. Pelo contrário, essa situação é alimentada pela radicalização que ambas as posições políticas mantiveram ao longo do tempo. Resolver esse paradigma político no qual vivemos é, sem dúvida, um dos desafios mais importantes da nossa época.
Essa circunstância é ainda mais preocupante em uma sociedade como a nossa, onde o apoio dos seguidores a seus líderes políticos não é sustentado tanto pela racionalidade, mas sim pela emoção e pela cativação. A extrema-direita, por exemplo, emergiu em um período marcado pela corrupção e pelo desleixo das políticas de esquerda, apresentando-se como uma alternativa necessária para mitigar os efeitos colaterais que assolaram o país. No entanto, suas propostas para “curar” o Brasil dos males enraizados foram frequentemente disseminadas com o intuito de provocar medo e insegurança. Essas emoções, transmitidas recorrentemente a seus seguidores, são suscetíveis de distorcer a interpretação da realidade.
Quando a esperança de resolver os problemas do Brasil é guiada pelo medo, o vínculo entre o apoiador e o líder político é frequentemente contaminado por uma emotividade sem precedentes, o que dificulta a análise racional dos fatos. Quando as pessoas sentem medo, elas tendem a questionar menos a autoridade e a investigar se as ameaças são exageradas ou fabricadas.
Algumas declarações do presidente Bolsonaro durante sua campanha eleitoral em 2018 ajudam a compreender como o medo foi utilizado em seus discursos. Ele afirmou que iria “varrer o Brasil do comunismo” e que não queria uma república como a de Cuba ou uma ditadura como a da Venezuela. Entretanto, se analisarmos sob outra perspectiva, as chances de o Brasil se tornar um país ditatorial, desprovido de fundamentos democráticos, são extremamente baixas. Uma coisa é considerar a ineficácia da política brasileira e a desconfiança que isso gera; outra é concluir que a falência das instituições, muitas vezes improdutivas ou ineficazes, levará necessariamente a uma ditadura no futuro. Esse tipo de associação de ideias, conectadas pela angústia, frequentemente gera conclusões distantes da realidade. E o grande problema é que, uma vez que essas ideias estão entrelaçadas, torna-se muito difícil dissociá-las.
Além disso, há outros discursos de Bolsonaro, tanto durante a campanha eleitoral de 2018 quanto ao longo de seu mandato, que se baseiam na emoção do temor: medo das minorias, da fraude eleitoral, da COVID-19, entre outros.
Neste sentido, podemos afirmar que a ascensão da extrema-direita no cenário político brasileiro inicialmente se apresentou como uma alternativa essencial para solucionar a ineficácia política no país. No entanto, a maneira como essa ascensão ocorreu — baseada na política do medo — desencadeou fenômenos sociopolíticos ainda mais graves, comprometendo a possibilidade de diálogo entre os adversários e colocando em risco a nossa atual democracia. Dito isso, os discursos emotivos e irracionais parecem prevalecer sobre a verdade.
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