Cadeirada em Marçal: um reflexo da sociedade brasileira?
O Brasil atravessa um período político desgastante, como ficou evidente na recente disputa pela prefeitura de São Paulo, onde os candidatos dedicam grande parte de seus discursos a expor supostos atos de corrupção de seus oponentes. Essa tendência revela um desvio no foco dos debates políticos, já que, nos principais confrontos eleitorais, parece haver mais ênfase em acusações mútuas do que na apresentação de propostas concretas.
Além disso, o Brasil inteiro foi testemunha de um episódio inusitado durante o debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo: Datena agrediu fisicamente Pablo Marçal com uma cadeira. Esse incidente se juntou a uma série de eventos negativos que têm marcado a política brasileira nos últimos 10 anos, como a facada em Bolsonaro, a prisão de Lula, a invasão ao Congresso Nacional e, por fim, a agressão de Datena.
Dessa forma, a política brasileira, diferente do resto do mundo, se apresenta diante de nós como um espetáculo banal de entretenimento, em que os líderes políticos, em vez de se dirigirem ao público com elegância e formalidade, exibem uma conduta semelhante à de líderes que adotam um comportamento primitivo.
No entanto, a política deveria ser um espaço de diálogo e construção coletiva, mas, com essa postura, ela se distancia cada vez mais do ideal de uma democracia deliberativa. Quando os candidatos agem mais como celebridades do que como servidores públicos, as instituições democráticas perdem ainda mais credibilidade.
Contudo, a culpa não recai apenas sobre os políticos, pois o estado atual da política brasileira deve ser visto também como um reflexo da própria sociedade e de seus cidadãos. Para Platão, filósofo da antiga Grécia, a arte de governar a polis (a cidade) está diretamente relacionada com o comportamento dos cidadãos. Segundo ele, uma sociedade virtuosa produz governantes virtuosos. Já para Rousseau, filósofo francês, a vontade geral de uma sociedade (valores, aspirações e moralidade) se refletem nas instituições e seus governantes.
Um exemplo que evidencia as reflexões de Platão e Rousseau é a campanha de conscientização cívica do governo, que tinha o objetivo de incentivar os motoristas a pararem nas faixas de pedestres. Quando os pedestres testaram essa iniciativa, ficaram decepcionados ao perceber que quase nenhum motorista respeitava a regra. Este é um exemplo que mostra que muitos brasileiros são resistentes a adotar certas normas cívicas.
Neste sentido, acredito que as mudanças na política somente ocorrerão a partir de uma mudança de comportamento não só de políticos, mas também dos seus cidadãos.
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