O capítulo anterior.

Na coluna da semana passada, comentei a extrema polarização ocorrida na eleição catarinense de 1982. As disputas para o Governo e o Senado foram vencidas por Esperidião Amin e Jorge Bornhausen por diferença de pouco mais do que um nariz. A bancada catarinense na Câmara ficou dividida ao meio: oito deputados do PDS, oito do PMDB. Na Assembleia, 21 a 19. Um fenômeno que nunca mais ocorreu em nosso Estado.

Mudando o local de trabalho.

Quando aconteceram aquelas eleições, eu já não era mais Chefe de Gabinete do Secretário-Chefe do GAPLAN. Meses antes das escolhas eleitorais, o Governador Jorge Bornhausen, que iria renunciar para a disputa do Senado, iniciou um processo de transição com o Vice-Governador Henrique Córdova. Os dois combinaram que o novo secretariado, que trabalharia com o joaquinense Córdova, seria antecipadamente escolhido, em comum acordo dos dois, e já começaria a operar com Jorge. Na sequência. com a renúncia de um e posse do outro, o grupo se estabilizaria como secretariado do novo Governador.

A mudança dos componentes da equipe foi facilitada pela compulsória renúncia dos que iriam disputar as eleições para deputado estadual e federal ou como suplente de senador. E também pela indicação do Secretário da Educação Antero Nercolini para o Tribunal de Contas do Estado. Foi nessa vaga que, depois de outras cogitações, eu acabei entrando.

Como fui parar na Educação.

Minha passagem do segundo escalão no Planejamento para o primeiro na Educação aconteceu após a cogitação de outras alternativas. A primeira resultou da sondagem feita junto ao meu sogro Ingo Zadrozny para que ele trocasse seu posto de Secretário Chefe do GAPLAN pelo de Secretário da Fazenda. O então titular desta pasta, empresário Ivan Bonatto, era um dos que renunciavam. No caso dele para se candidatar a Suplente de Senador com Jorge. Caso Ingo aceitasse ir para o lugar de Bonatto, seria provável que eu o substituísse no Planejamento. Outra hipótese, caso ele preferisse ficar onde estava, seria a minha indicação para a Fazenda. Surgiram, porém, algumas opiniões contrárias a qualquer uma dessas alternativas. Foi lembrado o fato de que ambas as combinações provocariam uma representação excessiva de Blumenau e de uma mesma família na área econômica do Governo.

Como Ingo preferiu permanecer no GAPLAN, eu poderia ficar no cargo que já ocupava, de seu Chefe de Gabinete, ou, eventualmente, sair da administração pública e seguir para Blumenau. Mas, tanto Jorge como Henrique queriam que eu continuasse no Governo. Certo dia, então, fui chamado para uma reunião no Palácio da Agronômica, residência oficial do Governador Jorge. Lá estavam ele e seu Vice, Henrique Córdova.

Convite feito, convite aceito.

Governador Jorge Bornhausen dando posse ao Secretário da Educação Paulo Gouvêa da Costa. Atrás, o Secretário anterior, Antero Nercolini e sua esposa. Fotógrafo não identificado.

Cheguei preparado para dizer que eu concordaria em ficar no posto de segundo nível, como Chefe de Gabinete do meu Secretário e meu sogro. A conversa, no entanto, tinha outro roteiro já conversado e resolvido pelos dois governadores – o que sairia em breve e o que ocuparia seu lugar.

Após alguns preâmbulos e considerações, recebi, da parte deles, quase como um dueto, a convocação para ser Secretário de Educação. E respondi, muito feliz, que, claro, eu aceitava.

Sou filho de uma professora de Geografia – a primeira mulher da nossa cidade de Cachoeira do Sul a fazer curso superior e residir, ainda solteira, na Capital – e de um pai que tinha em casa, uma vasta e bem eclética biblioteca. Eu mesmo, mais tarde, fui professor de Direito Constitucional nas duas mais prestigiadas faculdades de São Paulo, a da USP (a lendária “Faculdade do Largo de São Francisco”, onde fiz minha primeira pós-graduação) e a da Universidade Mackenzie. Com essa herança e essa experiência, eu só podia ficar entusiasmado com a oportunidade de ser o Secretário de Educação de Santa Catarina.

Primeiro com um Governador, sequência com outro.

Jorge Bornhausen passando cargo a Henrique Córdova. Atrás do novo Governador, sua esposa Marita e entre ela e o Chefe da Casa Militar o Prefeito de São Joaquim Rogério Tarzan. Fotógrafo não identificado

Comecei minha missão com o Governador com quem já estava acostumado a tratar: Jorge Bornhausen. Fiquei no cargo, sob comando dele, do início de 1982 até sua renúncia, no dia 14 de maio daquele ano, para concorrer a Senador. No mesmo dia, tomou posse, na Chefia do Executivo, o Vice Henrique Helion Velho de Córdova. E eu continuei nas funções de Secretário conforme tinha sido planejado e acordado entre Jorge e Henrique alguns meses antes.

Próximo capítulo.

Na próxima semana relatarei, com mais detalhes, os estilos pessoais de governar de Jorge Bornhausen e Henrique Córdova. Duas criaturas humanas notáveis, dois administradores com características bem diferentes