Santa Catarina de 1979 a 1982. A Era Jorge Bornhausen (VI).
Pesquisas internas do PDS mostravam Amin com maior potencial de votos para vencer a eleição de Governador. Mas, Konder Reis gozava da simpatia do então todo-poderoso Chefe da Casa Civil João Leitão de Abreu. JKB então despachou-me para Brasília munido das pesquisas e da minha condição de conhecer bem o Ministro, de quem minha família tinha sido vizinha, éramos amigos, e foi meu professor na Faculdade de Direito da PUC em Porto Alegre. Voltei com a missão cumprida.
Esperidião foi o candidato, confirmou seu favoritismo, venceu a eleição. E Jorge elegeu-se Senador. É provável que o desfecho fosse este mesmo, independentemente de minha participação. Mas, gosto de pensar que teve um dedo meu, ainda que pequeno, nessa história.
Eleições resolvidas no pau da goiabeira.
As eleições majoritárias de 1982 – para Governador e Senador – cujos antecedentes narrei no comentário anterior, tiveram, em Santa Catarina, resultado final impressionante: um quase empate entre os dois principais candidatos para cada um desses cargos.
Na eleição de Governador Esperidião Amin, do PDS, totalizou 838.150 votos, e seu principal oponente, Jaison Barreto, do MDB, 825.500. Diferença de 12.650 votos, apenas 0,76%.
E a eleição de Jorge Bornhausen para o Senado foi ainda mais apertada. Ele fez 816.386 votos contra 814.947 de Pedro Ivo Campos, apenas 1.439 a mais. Incríveis 0,08% entre um e outro.
Na contagem dos votos, a política de Santa Catarina teve o mais sensacional caso de suspense da sua história. A apuração chegava a seu final e a disputa pelo Senado permanecia incerta, pau a pau. Os partidários de Jorge Bornhausen só pararam de roer as unhas e começaram a festejar quando terminou a contagem em Joinville, principal base de Pedro Ivo, e restavam ainda algumas urnas a apurar no Sul do Estado onde o PDS era bastante forte.
Todo esse clima se deveu ao fato de que, naquela época, os votos eram dados numa folha de papel preenchida à mão pelos eleitores. A apuração era confusa e irritantemente lenta. Levava vários dias.
Uma polarização nunca mais igualada.
Na corrida pelo Governo, os três outros candidatos que estavam disputando – Eurides Mescolotto do PT, Ligia Doutel de Andrade do PDT e Osmar Cunha do PTB – todos, nomes de prestígio – os três juntos, somados, tiveram menos de 1% dos votos. E na do Senado repetiu-se o fenômeno: o conceituado advogado criminalista Acácio Bernardes do PDT, Valmir Martins do PT, e João Caznok do PTB, também não conseguiram, no conjunto de seus votos, alcançar 1%. Na época, PDS e PMDB dividiam entre si um apoio bipolar mais consolidado que o existente nos últimos anos no Brasil. Essa situação refletia os sentimentos herdados do período em que vigorou o bipartidarismo. Embora a pluralidade de partidos já estivesse vigente há três anos, e os demais partidos tivessem líderes importantes, ainda não tinham conseguido quebrar o sistema político dual criado pelo regime militar em 1966 e só extinto em 1979.
E para completar o cenário, no nosso Estado, com tal centralização de votos em apenas dois blocos, a bancada catarinense na Câmara Federal ficou com 8 deputados do PDS e 8 do PMDB. Na Assembleia, 21 PDS, 19 PMDB. Nenhum dos demais partidos conseguiu eleger sequer um representante tanto para o Congresso, como para a Assembleia.
Futuros Governadores.
Os dois candidatos mais votados, naquele ano, para Deputado Federal, foram Luiz Henrique da Silveira (PMDB) e Vilson Pedro Kleinubing (PDS), que mais tarde viriam ser governadores de Santa Catarina. Só eles, naquele pleito, passaram de 100 mil votos.
Com esse cara no páreo, não tem jeito de vencer.
Já no ano seguinte, eu compartilhava uma eclética mesa de bar em Brasília, onde se discutia a eleição recente. Jaison Barreto estava lá. E a folhas tantas da conversa, perguntado sobre as causas da sua derrota por tão poucos votos, ele disse que, com Esperidião, não dava para concorrer. Jaison relatou que, quando ele próprio acordava em Florianópolis ou em Balneário Camboriú para iniciar sua jornada de campanha, Amin já tinha levantado há muito tempo, tinha passado por várias cidades, já estava lá no Oeste garimpando votos. “O homem é um cavalo para trabalhar, é imbatível”, arrematou Jaison.
Próximo Capítulo.
Na coluna da semana que vem, vou tratar da minha troca de posição no Governo. Cogitado para assumir o Planejamento ou a Fazenda, acabei, muito feliz, na Educação.
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