Capítulo anterior.

Ainda nos primeiros meses de trabalho no Governo do Estado, Jorge Bornhausen e o Secretário Chefe do GAPLAN Ingo Zadrozny viajaram em missão oficial à Alemanha. Em consequência, fui empossado, pela primeira vez, em um posto de primeiro escalão. E acabei, no cargo, cometendo uma gafe, digamos, diplomática. Mas, também, dei um palpite feliz. Resolvi um problemão do Governo.

O Prêmio Cruz e Souza.

Presidente da FCC João Nicolau de Carvalho, Secretário de Cultura, Esporte e Turismo Júlio Cesar, Paulo Gouvêa da Costa, escritor Jair Hamms, escritor Salim Miguel, Reitor da UFSC Ernani Bayer.
Governador Jorge Bornhausen, acompanhado do Desembargador Ivo Sell e do Reitor Ernani Bayer, preside entrega dos prêmios. Fotógrafo não identificado.

Pode parecer estranho que lembranças de atividades na área do Planejamento incluam um concurso literário. Há duas razões para que eu traga do passado esse programa destinado, naquele ano, a premiar poesias. Primeiro, porque foi minha, em uma conversa com o Governador, a sugestão de o Governo de Santa Catarina patrocinar e lançar nacionalmente o Prêmio. E também porque a repercussão nacional superou nossas expectativas.

Jorge adotou a ideia com entusiasmo – por gosto e índole pessoais, e por perceber o alcance que essa iniciativa poderia ter na divulgação da imagem do Estado. O Gabinete de Planejamento articulou-se com a Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo comandada pelo competente Secretário Júlio Cesar e com a Fundação Catarinense de Cultura, sob o comando do professor e escritor João Nicolau Carvalho. O lançamento foi realizado na sede da Academia Brasileira de Letras no Rio Janeiro, em 1980. A comissão julgadora foi composta pelos renomados escritores Adonias Filho, Armindo Trevisan, Fausto Cunha, Ferreira Gullar e Marcos Konder Reis, e a entrega dos prêmios aos vencedores, aconteceu no Teatro Álvaro de Carvalho em Florianópolis.

O Prêmio, por certo, contribuiu para a edificação da excelente imagem que nosso Estado tem em todo o País.

Missão em Brasília.

Antônio Delfim Netto, o “Czar da Economia do Brasil”. O “Arquiteto do Milagre Econômico Brasileiro”. Fotógrafo não identificado.

Eu mencionei, na coluna anterior, que o Governador Jorge Bornhausen às vezes me convocava para tarefas fora da minha rotina de Chefe de Gabinete do Secretário do GAPLAN. Assim aconteceu quando ele me incluiu no grupo de coordenação do bem-sucedido programa “Comandos Sociais”, junto com Salomão Ribas Jr. e Raimundo Colombo que foi o líder da equipe. E mais ou menos na mesma época me despachou para Brasília para reunião com um dos dois ministros mais poderosos do Governo: o comandante do Planejamento, Antônio Delfim Netto. O outro, tão ou mais influente que ele, era o Chefe da Casa Civil João Leitão de Abreu.

O objetivo era desentupir o cano pelo qual transitava a aprovação de um vultoso empréstimo externo para obras em Santa Catarina. O processo era na época, como ainda agora, bastante enrolado. A aprovação final é do Senado, mas depende de aval e de outras formalidades do Governo Federal.

Nada disso acontecia sem a anuência do Ministro do Planejamento, e, naquele momento, a tramitação estava emperrada. Havia prazos que se esgotariam em poucos dias. Meu chefe e meu sogro era amigo de Delfim já dos tempos em que tinha presidido a Artex. Ingo Zadrozny, porém, não estava disponível, na ocasião, para viajar a Brasília e levar o calhamaço de documentos que precisava ser entregue na mão do Ministro.

O próprio Gabinete do Governador fez o contato com o Ministério pedindo que Delfim, na impossibilidade do Secretário viajar, recebesse seu Chefe de Gabinete que era seu genro. Logo em seguida a secretária de Jorge me ligou informando que a audiência estava marcada para o dia seguinte às 6:30 da manhã. Isso mesmo: seis e meia da madrugada.

Já em Brasília, a caminho do Ministério, naquele horário inusitado, eu imaginava que Jorge e Ingo deveriam ter muito prestígio com Delfim a ponto dele, como eu supunha, concordasse em acordar mais cedo, ir ao Ministério, especialmente para conversar comigo. Eu achava que iria encontrar o lugar deserto, com algum assistente, talvez uma secretária, aos bocejos.

Porque Delfim mandava tanto no País.

Quando cheguei, lá pelas 6:15, foi um espanto: o gabinete do Ministro fervilhava: um monte de gente trabalhando, funcionários servindo café, diversas pessoas sentadas, esperando suas próprias audiências. Indagada se aquele era um dia excepcional, assim tão movimentado, uma secretária informou que não, aquilo era o padrão normal de todos os dias, o ano inteiro. E que minha reunião não era a primeira do dia, e sim a terceira. Delfim começava a trabalhar pontualmente às 6 da manhã, sempre. E ficava, praticamente direto, até, pelo menos, 10 da noite. Muitas vezes mais do que isso.

E ele não perdeu muito tempo comigo. Perguntou por Ingo e pela minha sogra, tão gentis, tinham recebido ele na casa de praia da Armação, na Penha, disse que Ingo era um dos seus melhores amigos, grande abraço aos dois. A seguir pegou a papelada, olhou, disse que tudo estava em ordem e, sendo assim, o que cabia ao Governo estava resolvido: como nós havíamos adiantado qual era o assunto, ele, na véspera à noite, já tinha analisado o processo. Deu um abraço. E fim do encontro.

Na volta, fazendo meu relatório ao Governador, informei a ele que eu havia descoberto por que Delfim Netto mandava tanto: em Brasília, onde todo mundo, inclusive quase todos os demais ministros, começa a trabalhar às 10 horas e termina às 18, o homem ficava na lida desde às 6 da matina até 22. Deste jeito, só pode mandar muito mesmo.

Próximo capítulo.

O ano de 1982 foi marcado, politicamente, pelas eleições: para Governador, Senador, Deputados Federais e Estaduais. Nas hostes da situação, já no final do Governo Jorge Bornhausen, não havia consenso sobre a definição dos principais candidatos. Na semana que vem vou mostrar o que minha memória dos fatos recuperou das dúvidas e discussões daquela época.