No capítulo anterior.

Quando fui reeleito Deputado Federal em 1998, o Governador Esperidião Amin convidou-me para fazer parte de seu secretariado. Tomei posse em 1999 como Secretário do Desenvolvimento Econômico e Integração ao Mercosul. A Secretaria, além das funções designadas no próprio nome do órgão, englobava também a Junta Comercial, a SC-Gás, e a SANTUR. Nessas áreas, tive a satisfação de contar na equipe, respectivamente, com o ex-Prefeito de Florianópolis Bulcão Vianna, o ex-prefeito de Joinville Luís Gomes, e o ex-Presidente da EMBRATUR Flavio de Almeida Coelho. Fizemos muita coisa, conforme relatei na coluna anterior.

Amin e Gouvêa despachando. Fotógrafo não identificado.

Minha principal tarefa, porém, seria a atração, para o território catarinense, de empresas que contribuiriam significativamente para o desenvolvimento do Estado. E entre elas, uma gigante.

Viajando pelo passado: a história de uma conquista.

Naquela época, a ainda chamada USINOR, estava no processo de decisão de um colossal investimento no Brasil. A empresa era uma grande siderúrgica francesa que, mais tarde, em 2002, iria se unir com a Aceralia da Espanha e a Arbed de Luxemburgo, criando a atual ARCELOR-Mittal, líder mundial na produção de aço. A preferência era o Sul do País, talvez São Paulo, mais possivelmente Paraná ou Santa Catarina. Era uma competição que não queríamos perder.

Embarquei, então, em uma guerra das antigas. Estive, pessoalmente, e até à medula, envolvido nessa tarefa. Na ocasião, as principais armas eram as facilidades que pudessem ser oferecidas pelo Governo do Estado, por empresas estatais e pelo município que receberia a instalação. Foi um acontecimento que vale a pena lembrar e relatar. Vamos, então, viajar para o final do século passado, no período entre 1999 e o comecinho do século atual.

Secretário com uma missão complicada.

Já de início, o Governador Amin deixou claros para mim dois pontos: 1) ele não acreditava que fosse possível vencer a competição com os outros Estados; e 2) ele, mesmo assim, daria todo o apoio, tanto pessoal como dos diversos órgãos da administração.

Inicialmente, procurei os representantes da empresa que estavam no Brasil para abrirmos os procedimentos de negociação. Eles designaram um grupo terceirizado de consultores de alto nível, que, juntamente com mais um ou dois representantes próprios, vindos da França, teria autorização para examinar conosco as questões fiscais, o terreno para a planta, disponibilidade de energia elétrica, abastecimento de água, vias de transporte e diversos outros aspectos.

Correndo mais que os concorrentes.

Eu acreditava, e muito, no sucesso da empreitada. Enquanto era finalizado aqui o cronograma de reuniões, embarquei para a França, tendo, antes, combinado com a Embaixada do Brasil em Paris que marcasse encontro com a direção central da USINOR e designasse pessoal da Embaixada para me acompanhar nas conversas, contribuindo com a tradução e referências a Santa Catarina no contexto do País. Como nem os paranaenses, nem os paulistas tomaram essa iniciativa, bingo, a Embaixada topou e deu um suporte de alto nível. Levei, na bagagem, muitos quilos de informação sobre nosso Estado. Os franceses de lá ficaram muitíssimo bem impressionados e passaram essa percepção ao seu time aqui no Brasil.

Caso se definisse por Santa Catarina, a empresa tinha preferência por São Francisco do Sul devido à boa qualidade do seu porto e à sua localização próxima do polo metalúrgico de Joinville, da área automotiva de São José dos Pinhais no Paraná, e do próprio porto de Paranaguá. E também nessa escolha a sorte esteve ao nosso lado: o Prefeito de São Francisco na época, Rogerinho Zattar, foi veloz e preciso: ofereceu todo o vasto pedaço de terra necessário, com folga, para as instalações.

Mãos à obra. Um jogo de equipe.

Daí para frente, o exercício de convencimento se deu em inúmeras reuniões coletivas entre os representantes do nosso Estado com os consultores contratados pela Arcelor. Tive o privilégio de coordenar esses debates que ocorriam habitualmente na sede da Junta Comercial e contaram com a competente participação de técnicos e gestores da Secretaria da Fazenda, da Casan, Celesc, Eletrosul, da América Latina Logística (que administrava a linha férrea entre Paraná e São Francisco), da Administração do Porto de São Francisco, e de vários outros órgãos da administração estadual.

Surgiam a cada rodada, complicações que só poderiam mesmo ser desatadas com uma equipe de tão alto padrão e capacidade de negociação. Por exemplo: o abastecimento de água disponível à época teria de ser mais do que duplicado porque o novo empreendimento, sozinho, consumiria mais do que toda a população de São Francisco. A Casan resolveu este caroço criando uma nova empresa, especificamente para fornecimento de água à empresa. Por outro lado, com o volume de energia disponível na época, cada vez que ocorresse um determinado procedimento na fábrica haveria um apagão na cidade inteira. A Eletrosul, então, prontificou-se e instalar uma nova linha de alta tensão especialmente para superar o problema. A ALL e o Porto asseguraram que sua linha férrea seria estendida até dentro da área portuária. A Fazenda bancou o que fosse necessário para vencer a concorrência fiscal com os dois outros Estados. E assim foi costurado um projeto de acordo multisetorial catarinense com os franceses.

Próximo capítulo.

Na segunda feira que vem, contarei como foi o final dessa história. Até lá.