Desafios da era da desinformação
Neste mundo tão absurdamente difícil de conhecer informações verídicas sobre os fatos, devido à propagação de Fake News no mundo digital, o qual dificulta a possibilidade de conhecer a verdade sobre as coisas, se faz estritamente necessário adotar uma postura individual para não sermos enganados.
René Descartes, o filósofo racionalista do século XVII, propôs em sua obra “Meditações Metafísicas” uma alternativa “certa” e “segura” para conhecer as coisas (o mundo) de uma forma mais “clara” e “evidente”, com o intuito de não deixarmos cair no erro na hora de afirmar coisas sem pés nem cabeça.
Um exemplo de afirmações sem pés nem cabeça é o caso da senhora que foi entrevistada em meio a uma manifestação pró-Bolsonaro há algumas semanas atrás. O jornalista lhe pergunta “o quê a senhora faz com a bandeira de Israel?”. A mesma responde “porque nós somos cristãos, assim como Israel”. O jornalista, então, resolve replicá-la com informação verídica: “mas a senhora sabe que Israel não é Cristão”.
Mas este é somente um exemplo de afirmações que, seja de um lado político ou de outro, são afirmadas por aí de qualquer maneira, com alto tom de “grandiloquência” (veja no dicionário: “Maneira empolgada de se expressar; que se vale do uso excessivo de palavras rebuscadas para se expressar”).
Deste modo, parece que, o que importa hoje em dia é destacarmos (ou sermos reconhecidos) mais como “agentes morais” (fazermos passar por “agentes morais e políticos”) do que ir em busca de um conhecimento verdadeiro.
Para fugir deste tipo de argumentações “sem pés nem cabeça” devemos perguntarmos então: como podemos conhecer melhor as coisas (acontecimentos, fatos, etc), para não sair por aí afirmando coisas fúteis?
A primeira alternativa seria conhecer as coisas a través de informações aleatórias que chegam até nós mediante plataformas digitais, e satisfazermos unicamente com ela. A segunda alternativa seria receber a informação e investigá-la a través de outros meios pertinentes para comprovar de forma clara e evidente a sua veracidade.
De forma geral, acredito que uma grande parte da população adota a primeira atitude para conhecer as coisas, de forma muito menos fiável, talvez porque esta seja a maneira mais “satisfatória” de conhecer a realidade, já que não supõe absolutamente nenhum esforço.
Esta forma de retroalimentar-se com informações provindas de diversos meios, e satisfazermos com ela, somente contribui a reforçar a ignorância e a superstição, pondo em risco a própria Democracia.
Diante da impotência dos Estados para legislar a propagação de informação falsa, cabe a cada um de nós adotar a responsabilidade individual para irmos em busca de um conhecimento certo e seguro. Se faz estritamente necessária uma “educação da informação”. Descartes estava certo: para conhecer, devemos inicialmente duvidar de todas aquelas coisas que uma vez afirmamos como “certa” e “verdadeira”.
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