Nos capítulos anteriores contei como surgiu a ideia, de um grupo de empresários de Blumenau, de procurar um candidato altamente competitivo para interromper a série de duas décadas de administrações do MDB/PMDB na Prefeitura. Durante a fase das pesquisas feitas para detectar quem poderia encarnar esse papel, surgiu, nos levantamentos espontâneos, o nome de Vilson Kleinubing. Ele aceitou o desafio, transferiu seu título eleitoral para a cidade, mudou-se com a família, passou a conversar com o povo através do rádio e em jornadas diárias pelos bairros. O Professor Victor Sasse incorporou-se ao projeto na condição de candidato a Vice-Prefeito. E, assim, chegamos ao episódio de hoje: a campanha eleitoral, provavelmente a mais espetacular já acontecida em Blumenau.

Previsão

Escrevi, em 1986, artigo prevendo que o predomínio emedebista em Blumenau estava em risco devido a dois fatores: 1) a vitória inesperada de Vilson Kleinubing em Blumenau, naquele ano, na eleição para Governador do Estado, quando o vencedor no Estado foi Pedro Ivo Campos, do PMDB, partido até então dominante em Blumenau; 2) as crescentes divisões internas do PMDB blumenauense.

Dois anos mais tarde estes dois fatores associados, mais outros que a política foi acrescentando, determinaram o resultado do pleito municipal: a estupenda vitória de Vilson que interrompeu o ciclo de poder do PMDB no município.

Largando atrás, chegando muito na frente

A eleição para prefeito de Blumenau, em 1988, teve três candidatos de muito peso. O então já ex-Prefeito Renato de Mello Vianna corria pelo PMDB, partido que, desde sua versão MDB, vinha governando a cidade por 20 anos; o Deputado Federal Constituinte Vilson Souza, do PSDB, membro de uma das mais proeminentes famílias de empresários da cidade, sócio da Dudalina, advogado; e Vilson Pedro Kleinubing, do PFL (coligado com PL e PDS), que já fora Deputado Federal, eleito em 1982 com a segunda maior votação do Estado, e candidato mais votado em Blumenau na eleição para governador em 1986. Além desse trio de pesos pesados, ainda concorriam, com chances menores, o empresário Pedro Cascaes Filho, do PTB, Presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas; José dos Reis Garcia, do PT; Jaime da Silva Telles, do PDT; e Antônio Carlos Nascimento, do PCB.

Na largada da campanha, Vianna era visto como favorito, Souza vinha logo atrás e Kleinubing estava em terceiro lugar. No decorrer dos acontecimentos, muita coisa mudou. O que era o primeiro terminou em terceiro, o segundo permaneceu onde já se situava, e o terceiro foi aquele para quem a vitória deu a mão. Após uma disputa trepidante, de tirar o fôlego dos eleitores, Vilson Kleinubing venceu de modo avassalador: fez mais votos que todos os outros seis candidatos somados. Na época o sistema ainda era de turno único. Houvesse a possibilidade de dois, ele já teria vencido no primeiro.

Como isso aconteceu é o que vamos contar hoje, neste novo episódio da saga que foi a eleição municipal de Blumenau em 1988.

No palanque

Kleinubing e Sasse em campanha. Fotógrafo não identificado.

Vilson gostava muito de um palanque. Ele, na verdade, gostava de tudo que fazia parte de uma campanha eleitoral. Mas, para ele, o melhor de tudo era a hora de falar abertamente, ao vivo, com os eleitores, presencialmente. Com essa vocação e com seu talento oratório, foi fácil para ele se livrar dos fantasmas que rondavam sua trajetória rumo à Prefeitura.

O mais preocupante ser do além naquele momento era a pecha que os adversários tentavam impingir-lhe, de “forasteiro”, do cara que veio de alhures para usar a cidade de Blumenau como “trampolim para uma candidatura ao Governo do Estado”. À essa altura Kleinubing já estava bem instruído pelo marqueteiro da campanha, o craque Hiram Pessoa de Melo, quanto à necessidade de aplicar a “vacina política”, antecipar-se, tomar a ofensiva de abordar o assunto incômodo, porque, conforme Hiram, “a antecipação desarma a armadilha adversária”. Para os programas de TV que viriam mais tarde havia várias doses preparadas desse imunizante. Mas, Vilson já aproveitava também os comícios e outras reuniões com eleitores para, indiretamente, ir aplicando o imunizante.

Capa do livro de Hiram Pessoa de Melo.

Um exemplo. Muitas vezes, Vilson abria seu discurso brincando com sua condição de blumenauense novato. Dizia: “Sempre preciso vir aos comícios com alguém de Blumenau, se não, posso me perder no caminho”. E o povo achava graça e aplaudia. “Eu ainda não conheço muito bem a cidade”, continuava ele. “Mas, sou bom aluno, aos poucos vou aprendendo como chegar. E os problemas que precisam ser resolvidos aqui, estes já sei de cor”. E dizia o que precisava fazer naquele bairro e na cidade. O público achava o máximo. Gostava da franqueza dele, do seu jeito de falar, e do tiro certo que ele desfechava nos problemas que os incomodavam.

Um talento: o bate-papo com grandes plateias

Eu já mencionei aqui uma particularidade da maneira de Vilson Kleinubing discursar: ele não discursava. Não no sentido ainda vigente na época de elevar e empostar a voz, às vezes tremelicante, usando palavras muitas vezes incompreensíveis para a maioria dos que assistiam a um comício. Ele conversava com o povo que lá estava. Em tom coloquial, ia falando de si mesmo, do candidato a vice, das pessoas de Blumenau, da cidade, de seus planos. E aproveitava para enxotar os fantasmas.

Na televisão

Hiram Pessoa de Melo no livro mostrado acima, transcreve a fala de Kleinubing na abertura do primeiro programa de campanha na TV: “Eu não tive a oportunidade de decidir onde nasceria. Se tivesse essa condição, com toda a certeza, teria elegido Blumenau como minha cidade natal. Porém, sinto-me blumenauense de alma e coração, porque compartilho os mesmos valores que todos os blumenauenses tanto prezam: o trabalho, a honestidade, a integridade, os valores familiares. Com muito orgulho, sou blumenauense de alma e coração”.

Havia também espaço para brincadeiras, para um tipo de graça bem ao gosto da gente de Blumenau. Naquela época fazia sucesso um programa de humor da Globo no qual, em um dos quadros, Jô Soares encarnava o personagem “Zé da Galera” que usava uma cabine telefônica (o velho orelhão) para reclamar do técnico Telê Santana, porque a seleção não tinha pontas. Na campanha de Vilson, colocamos no orelhão, como personagem, um cidadão desconsolado, mas muito engraçado, que ligava para a Prefeitura dizendo, por exemplo, para pôr água nas torneiras. Naquele tempo havia uma crônica falta de água em diversas áreas da cidade.

Jô Soares no programa da Globo que inspirou quadro na propaganda de Kleinubing na TV. (Imagem: Geraldo Modesto/TV Globo)

Próximos e últimos episódios

Neste ponto fazemos nossa última e necessária pausa. Nas duas próximas segundas feiras estaremos de volta para encerrar essa temporada de sete episódios que dedicamos à eleição de Vilson Kleinubing para a Prefeitura de Blumenau. Daí para a frente, outros acontecimentos da história de SC dos quais tive a oportunidade de participar ou ser testemunha. Obrigado pela atenção.