Kleinubing e Gouvêa – Imagem: Acervo de Paulo Gouvêa

Este ano, a escolha de candidatos a Prefeito tem sido, em alguns lugares, uma oportunidade para o exercício da invencionice. A expectativa do evento inspirou o uso, na prática, das teorias do absurdo. Exemplos de tal fenômeno são as cogitações que apareceram por aí sobre possíveis candidatas para concorrer na minha cidade de Blumenau, nomes exóticos dada à ausência de relação maior entre as que foram cogitadas e a cidade. Uma delas é a Deputada Federal e ex-vice-governadora Daniela Reinehr. Outra, a também Deputada Federal Julia Zanatta. Ambas filiadas ao PL. Quase ao mesmo tempo, elas foram lembradas para a missão de disputar o comando da administração municipal de Blumenau. Aparentemente, o partido a que pertencem chegou a acreditar que bastaria, para chegar à vitória, o mágico impulso provocado pelas suas condições de bolsonaristas. Seria possível? Creio que não. E parece que, a esta altura, aquelas intenções já tomaram o caminho do brejo. Embora, em política, nunca se saiba ao certo.

E o caso de Vilson Kleinubing em 1988? Viajando para o passado

Comentando aquelas propaladas transfusões intermunicipais de candidatos, e tratando-as como algo estranho, ouvi de um conhecido que minha observação poderia ser vista como uma incoerência já que 36 anos atrás fui um dos responsáveis pela candidatura de Vilson Kleinubing, oriundo do Oeste e morador de Florianópolis, a Prefeito de Blumenau. Seria tudo a mesma coisa? Uma candidatura de Reinehr agora teria o mesmo caráter que a de Kleinubing em 1988?  Longe disso. Nada a ver. Kleinubing já tinha estabelecido uma profunda ligação com o município dois anos antes daquela eleição. Embora tenha sido derrotado por Pedro Ivo Campos em praticamente todas as maiores cidades catarinenses na eleição de 1986 para o Governo do Estado, ele foi o vitorioso em Blumenau.

Candidato do recém-criado PFL, que havia se separado há pouco do PDS e ainda não tinha estrutura alguma na grande maioria dos municípios catarinenses, Kleinubing teve de enfrentar, além do adversário do MDB, um concorrente da sua própria área política: o Engenheiro Amílcar Gazaniga, do PSD, apoiado pelo então governador Esperidião Amin. Mesmo assim, obteve dois feitos inesperados: foi o segundo colocado da eleição, superando Gazaniga, e foi destacadamente o mais votado em Blumenau.

Poderia alguém imaginar que uma vitória com essas características talvez se devesse ao sobrenome alemão de Vilson. Mas, não foi assim. Em muitos outros municípios em que grande parte da população tem a mesma origem germânica, quem venceu foi Pedro Ivo, candidato tido como o grande favorito desde o início da campanha e que era de Joinville.

Eu tive alguma participação nesta campanha para governador, em Blumenau, como apoiador de Kleinubing e coordenador de um dos seus comitês. Acompanhei ele em alguns eventos e vi o que estava acontecendo: o progressivo encantamento dos blumenauenses com aquele moço que não fazia discursos – não na forma grandiloquente como era hábito naquele tempo. Ele conversava com a plateia. Não importava se eram 200 ou 2.000 eleitores na sua frente, ele proseava, de modo solto, informal, fazendo brincadeiras, por exemplo, com a circunstância de que tinha um sobrenome desses, mas que, “em alemão, não sabia nem abanar”.

Um elo imprevisto, mas sólido. O caso Kleinubing

O fato é que, no final de 1997, quando, internamente, começou a ser levada a sério a possibilidade de que Vilson Kleinubing viesse a ser candidato a Prefeito de Blumenau, a ligação do político com essa cidade, já estava consolidada pelo resultado eleitoral anterior e sacramentada por uma afinidade muito intensa. Ainda não se percebia isso a olho nu. Mas, em breve a conexão ficaria bem clara. E vários outros fatores ocorridos entre 1987 e 1988 vieram a contribuir para que o Projeto Kleinubing fosse construído em Blumenau. Esses acontecimentos eu pretendo detalhar na próxima coluna, relatando, entre outros, o papel dos empresários blumenauenses, a participação de Esperidião Amin e Jorge Bornhausen.

Nota do colunista

A passeada que aí acima foi iniciada, por épocas pregressas da política catarinense, não é um evento ocasional. Nesta nova fase do SCemPauta combinei com o editor Marcelo Lula que este seria o propósito principal da minha coluna: relatar acontecimentos importantes ou às vezes apenas curiosos ou engraçados, da política do nosso Estado, os quais tive a oportunidade de participar ou de testemunhar. Ao final tenho a pretensão de que a soma de todas essas histórias possa resultar em uma espécie de “memórias da política catarinense”, um apanhado das experiências em que estive envolvido num período de pouco mais de vinte anos.