O entrevero que ninguém sabe como termina – Coluna do Paulo Gouvêa
Você, caro leitor, por certo já ouviu esta frase: “Uma CPI todo mundo sabe como começa, mas. ninguém sabe como termina”. A Comissão Parlamentar de Inquérito, como diz o nome, inquire, investiga. E quando se vai atrás dos fatos e de suas consequências é possível descobrir coisas que não interessam a quem governa. E aí, como termina a temporada desse tipo de série? Ninguém sabe. Daí, o susto. E todo mundo sabe como começa. Neste caso começou com a fogosa tentativa do Governo de minar sua instalação. O pessoal de lá cumpriu o roteiro clássico: pressionou os presidentes do Senado e da Câmara e saiu em busca de parlamentares que já tinham assinado o pedido de instalação da Comissão apelando a cada um que tirasse seu nomezinho da chuva do documento.
Lula tinha lá suas razões para esse boicote? Até acho que sim. Governantes em geral não gostam desse tipo de atividade parlamentar. CPI não faz parte das propostas e intenções do Poder Executivo, ela cativa as atenções da imprensa e, se for bem-sucedida, também empolga a opinião pública. E atrapalha a elaboração da pauta de interesse governamental, complicando as votações do Congresso. Essas são as razões benignas que o Presidente tinha para brigar contra a concretização da CPI.
Já além da benignidade e para lá do que é aceitável, há a suspeita de parte da oposição de que poderiam existir motivos malignos para a batalha do Governo contra a realização da CPI. O burburinho da política de Brasília já vinha divulgando a hipótese de que, de algum modo, o PT e Lula não foram tomados de surpresa com a baderna do espetaculoso dia 8 de janeiro. Segundo essas línguas viperinas, talvez eles até tenham simpatizado com tudo que aconteceu. Difícil de acreditar, mas, como também se diz no nosso país, na política só não se vê boi voar.
Não me incluo entre os que acreditam que um mamífero desse porte possa se elevar do solo como um albatroz. Há farta indicação de que a iniciativa do confronto de janeiro foi efetivamente das hostes bolsonaristas. Mas, a lógica me sussurra no ouvido que isso não impede que, começado o espetáculo, os novos habitantes do Planalto tenham achado que esse era um acontecimento que lhes traria interessantes benefícios políticos. E talvez, quem sabe, porventura, possam ter dificultado o enfrentamento aos que eles chamam, com o habitual exagero retórico, de terroristas. Mais exato é chamá-los de baderneiros e golpistas, reservando o termo “terrorista” para quem, por exemplo, invade uma creche e mata crianças ou para quem derruba as torres gêmeas com dois aviões lotados. Mas, enfim, a turma instalada no governo pode, discretamente, ter soprado as brasas que começavam a arder. Tudo isso era muito obscuro e, como resultado, virou uma batalha de versões e narrativas.
De repente veio o fato inesperado e tremendamente complicador: um pezinho do Lula, ainda que indefinido e não bem esclarecido, no local do crime. Conforme as imagens vazadas, o General “G. Dias”, leal amigo de Lula e membro prestigiado de seu governo, estava, olha só, presente no local e no momento dos “atos terroristas” sem demonstrar o menor constrangimento e sem mover um dedo para impedir que a baderna acontecesse e se propagasse. Ele e alguns de seus fiéis aliados do Gabinete de Segurança Institucional. Isso pode significar pouca ou muita coisa. Na dúvida, o pessoal do Governo mudou rapidamente de ideia. Entendendo que a CPI se tornara inevitável, todos correram a assinar o pedido de criação da dita cuja. Trataram logo de divulgar que estavam dando seu apoio. E, para reduzir ou até evitar danos maiores, estavam tratando de ocupar o maior número possível de vagas na Comissão. Afinal, quem está no meio de um entrevero político dessas dimensões acaba achando que, afinal, possa mesmo ter mesmo alguma culpa. E, como se sabe, quem tem culpa, tem medo.
A nós, o público “deste país”, resta agora esperar o final da temporada para saber como a CPI terá terminado.
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