Tragédia de Blumenau: é preciso tratar causas, não só efeitos – Coluna do Paulo Gouvêa
Ainda dói muito lembrar o assassinato de crianças dentro daquela creche em Blumenau. A gente acreditava que essas barbaridades só aconteciam nos Estados Unidos e outros poucos países. O Brasil era abençoado pela índole pacífica da sua população. Mas, as agressões contra criaturinhas indefesas apareceram aos poucos em São Paulo e outros lugares. A barbaridade ocorrida em Saudades teria sido uma única exceção. E agora, de repente, a violência arrombou de vez a porta da nossa tranquilidade. O que está acontecendo? São as drogas que destroem os miolos de alguns malucos? Ou é o ódio entranhado na cabeça de outro tipo de doido cujo fanatismo acaba motivando o crime inominável?
A gente acreditava que creche era um lugar sagrado que nenhum ser vivo seria capaz de atacar. Mas, já há muitos outros lugares onde ninguém pode mais andar em paz. E as autoridades que deveriam defender o povo pedem que as pessoas se escondam, se curvem ao poder dos bandidos. A ordem é baixar a cabeça, sofrer a vergonha de ser roubado ou agredido e ainda agradecer se o bandido poupar sua vida. Absurdamente, essa é uma orientação sensata.
Uma das principais causas disso tudo é a impunidade. Se o meliante é menor de idade, nem vai preso. Se for maior, o tempo que passa numa cadeia só dá para o pernoite. E o cidadão, que mantêm Prefeitura, Estado e União, ele que trate de se esconder.
Com relação aos ataques de desatinados, como o de Blumenau, as autoridades, agora que as portas já foram dramaticamente arrombadas, anunciam medidas e discutem soluções. E estão tratando – pelo menos até agora – só de trancas mesmo, de fechaduras, ou seja, do combate a esse bárbaro tipo de crime em sua fase final, a da entrada do desvairado assassino no recinto das escolas. Patrulhas, rondas, vigilância, catracas, este tipo de providência. Tudo certo, tudo muito necessário. Mas, importante mesmo é enfrentar as causas: tudo aquilo que leva à formação do cérebro retorcido do demente que pega a arma e pula o muro da escola. É sabido que esses desatinados buscam inspiração e instrumentos navegando na lama da chamada “Deep Web”, a Internet profunda – um território digital sem lei e sem alma, onde todo projeto diabólico é bem acolhido e apoiado. E todo mundo sabe também que as nossas forças de segurança possuem meios de chegar lá. A inteligência policial tem especialistas que estão enxergando o que acontece nesse covil. É aí que os defensores da sociedade têm de entrar com suas tropas, prender os facínoras, estancar a produção de terroristas de todo gênero.
E é urgente, muito urgente, acabar, enfim, com a impunidade crônica que vigora no Brasil. Se não, nem adianta prender. Tudo isso no curtíssimo prazo. Depois, o trabalho permanente, de longo prazo, com as famílias, com os mestres; os métodos de ensino, a motivação, o aprendizado dos valores cristãos de solidariedade, compreensão, misericórdia, tolerância. E do respeito à vida.