Reeleição, promessas e ambições – Coluna do Paulo Gouvêa
Tal qual Jair Bolsonaro quando concorreu a primeira vez à Presidência, o novo (já não tanto) Presidente Lula da Silva anunciou, e repetiu algumas vezes durante a campanha, que não disputaria a reeleição na próxima escolha de um presidente. Promessa feita, compromisso abandonado. Nem bem chegou ao segundo mês de seu terceiro governo, ele já refugou sua própria palavra. Disse agora que “talvez” concorra novamente em 2026. Anunciou que sua “decisão” sobre correr ou não correr só poderá ser tomada no ano mesmo da eleição. E dependerá do “contexto político” do País e das condições da sua saúde.
É impressionante o baixo valor da palavra de um presidente da República no nosso país. Claro que há explicações e justificativas para a reviravolta na promessa do Presidente a seus eleitores. Intérpretes do pensamento lulista se apressaram a esclarecer que disputar um quarto mandato não é seu desejo, como ele próprio garantiu, mas que, todavia, talvez, quem sabe, ele acabe sendo candidato ao mesmo cargo, já então pela oitava vez, sem contar os segundos turnos. Ou seja, espremendo o caldo: 1) a ocupação profissional e permanente de Lula é concorrer à Presidência; 2) sua palavra, especialmente quando proferida em campanha eleitoral, não vale um tostão furado.
A fogueira interna das ambições
O que eu imagino é que o matreiro Lula percebeu que a desocupação do espaço da futura candidatura atiçou os ânimos de diversos companheiros do PT e adjacências. Rui Costa, Fernando Haddad, Flávio Dino, a própria Geici Hoffmann e até a Primeira-Dama Janja da Silva se enfogueiraram na pretensão de suceder o idoso Presidente. E já estão se dedicando à tarefa de puxar o tapete uns dos outros e outras. De olho nesse entrevero, Lula resolveu fazer o tal breque de arrumação: o motorista do ônibus, lotado, com gente de pé, dá uma freada repentina, uns caem, outros se agarram, tudo se embaralha e o ônibus segue adiante com outras acomodações à bordo. É, pode ser que Lula brecou o veículo da sua sucessão, reservando os lugares na janelinha para ele e, quem sabe?, para sua Janja.
O que vem a ser o contexto político
Ao final de 2025 e início de 2026, Lula e o PT vão espichar seus narizes para cima, consultar os horóscopos e cheirar as pesquisas de opinião. Se houver a conjunção de dois fatores – a candidatura competitiva de um dos seus camaradas (que não Lula) e uma saúde fragilizada ou um cansaço da vida (aí sim de Lula), muito bem, o PT partirá para a luta com o candidato ou candidata alternativo, mais jovem, mais disposto. Se, porém, os mesmos astros e pesquisas indicarem que só o próprio Lula tem chance de vencer a eleição, então não tem outro jeito senão botar o Véio do PT na corrida, no estado em que estiver. Os maldosos de Brasília dizem que, num caso como este, se ele estiver morto, vai ser embalsado e inscrito na disputa.
Mais de novecentos anos atrás teria acontecido a mítica epopeia de El Cid que, já morto, lhe vestiram a armadura, o amarraram ao cavalo, e assim foi à lula contra os invasores da sua cidade de Valencia. Os inimigos, ao verem o glorioso guerreiro, recuaram amedrontados. Talvez Lula, dependendo do “contexto político”, se imagine assim lendário. Mas, também é possível que simplesmente caia do cavalo.
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