A desconstrução: dos candidatos e das campanhas – Coluna do Paulo Gouvêa
A palavra da moda hoje na eleição do Brasil é “desconstrução”. A determinação nas campanhas é esta: demolir o concorrente. Implodir suas pretensões com a quebra de sua imagem, arruinar o que ele tem de prestígio, destruir as convicções que as pessoas possam ter em relação ao seu caráter. Neste segundo turno, as campanhas da eleição presidencial se transformaram numa grande pancadaria. Embora não seja possível justificar, dá para entender o que está acontecendo. O assessor da campanha de um deles avisa seu candidato que o outro está preparando artilharia pesada. E que é preciso revidar. Por exemplo: a turma de Bolsonaro, sabendo que corrupção é o aspecto mais frágil do calcanhar de Lula, parte para o ataque. O pessoal de Lula, compreendendo que, de fato, seu ponto fraco é a fama de corrupto, tenta revidar e aplicar na testa de Bolsonaro a mesma marca da desonestidade. A expectativa é confundir o eleitor e fazê-lo acreditar que, se ele é o roto, Bolsonaro é o esfarrapado.
Convenhamos, os volumes e os graus de bandalheira praticados nos governos de um e de outro são desiguais. Nesta área, a obra produzida pelo PT no Mensalão e no Petrolão é inigualável. Provavelmente não há equivalente na História. O Senador eleito Sergio Moro está aí para explicar. Mas, a esperança do lado petista é que, mesmo assim, o tema corrupção fique anulado, que os eleitores pensem que, quanto a este quesito, “é tudo farinha do mesmo saco”. E que, sujo por sujo, pode-se escolher o candidato levando em conta outros fatores.
Feitas essas avaliações nos dois comitês de campanha, pronto, está instalada a conflagração. E quanto maior for a carga de porcaria despejada nas redes, na TV e no rádio, mais felizes ficam os assessores e os mais fiéis seguidores de cada candidato. Como ainda teremos o debate dos 80 milhões de expectadores, é grande a chance de a situação evoluir para pior. Os marqueteiros parecem ignorar uma velha lei da propaganda política: quando um candidato agride o outro, ele até pode tirar votos de seu adversário porque muitos eleitores vão acreditar que o linchamento tem razão de ser, mas, com certeza, também perde votos porque os mesmos eleitores entendem que agressão é coisa feia. O resultado mais provável do mútuo espancamento é o aumento do número de eleitores que votarão em branco ou anularão seu voto.
É uma pena porque o espetáculo é deplorável. E porque perde-se a extraordinária oportunidade que as eleições oferecem de se fazer o debate de assuntos importantíssimos para a vida dos brasileiros.
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