Desde o processo de impeachment – que não se concretizou – do ex-governador Paulo Afonso, em 1997, que Santa Catarina não passava por um momento tão conflituoso como o de agora. Sem me aprofundar no noticiário diário e no que tem pontificado nas redes sociais, até porque isso fomentaria reações, comentários e, talvez, novas desavenças, vou resumir a ópera: a nível de poder público, há um claro desentendimento entre os três poderes, e a palavra é “desentendimento” mesmo – eles não estão se entendendo, não estão dialogando, não estão buscando harmonia; a nível privado, também há divergências localizadas entre entidades representativas que sempre buscaram estar alinhadas em prol de caminhos comuns para o crescimento do Estado.

É hora de todos sentarem para conversar. Mas para isso é preciso liderança e protagonismo, coisa que nos faltou nesses 22 meses de governo Moisés. A caneta e a batuta estão nas mãos da governadora em exercício Daniela Reinehr, mas o quadro ainda é de total indefinição com dois processos de impeachment tramitando nos tribunais mistos TJ/Alesc. Independentemente disso, todos nós precisamos andar para a frente num momento em que Santa Catarina enfrenta uma crise histórica que veio com a pandemia e se prepara para uma temporada de Verão que pode aliviar os prejuízos econômicos, principalmente no que se refere a emprego e renda.

Aproveito esse momento em que em Santa Catarina a palavra “crise” foi parar na letra “A” do dicionário, para fazer uma reflexão que, espero, sirva para nós catarinenses e também para o país. Da mesma forma que aqui, no Brasil vivemos um momento conflituoso e atribulado, mas achamos que a “crise” é planetária, que atingiu todos dos continentes.

Eu digo que não, que a crise mundial não é mundial; é do ocidente, das democracias ocidentais, dos lugares aonde há liberdade de fala e de imprensa que viraram circos eleitorais, midiáticos, rasos, frívolos e infantis; prova disso é o próprio conceito de “celebridades”. Ou seja, a liberdade das democracias se transforma no seu próprio veneno quando a ignorância e a estupidez radicais são celebradas como força social. E, para nossa surpresa, a grande imprensa “livre” do mundo “livre” embarcou nessa por interesse ideológico de esquerda e bolso de direita.

Tudo isso beneficia o Extremo Oriente e o Sudeste Asiático, os quais muitos culpam pela nossa própria irresponsabilidade. Eles estão cuidando da vida deles. Nós é que estamos falhando, pois eles têm planos e nós no Ocidente não temos. As democracias são, pois, fatos históricos recentes e o sufrágio universal tem 60 anos, apenas. O pós Segunda Guerra Mundial, com a vitória das democracias liberais sobre os nacionais socialismos fascistas, assim como a vitória na Guerra Fria, foram demonstrações da vitalidade de tais democracias.

Tão fortes, sim, com uma capacidade única, inclusive, nesta era das redes sociais: a capacidade de autodestruição. O preço da liberdade sempre foi a eterna vigilância e as democracias são regimes inteligentes, só não resistem – como nada resiste – às trevas da ignorância e da estupidez humana, que ao longo da história desconstruiu episodicamente suas próprias conquistas.

Há tempo de reverter o quadro? Sim, mas o ponto de partida tem uma condicionante: a consciência do problema de que, como disse o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, apaixonado por nosso país, “o Brasil não envelheça antes de amadurecer”. Se quisermos um exemplo dessa involução explícita conceituada por Strauss, é só olhar para o lado, porque a Argentina é o que não queremos e nem poderemos ser. Mas não deixaremos de sê-lo aos berros, mas sim pela inteligência estratégica de nação, país e estado.