O mundo do turismo pós-pandemia
Tive a honra de ser convidado pela Editora Nova Fronteira, entre cinquenta personalidades brasileiras das mais diversas áreas de atividades, para fazer reflexões sobre o que será do planeta depois do coronavírus. ‘O mundo pós-pandemia: Reflexões sobre uma nova vida’ (414 páginas) surge já como um dos best sellers da safra literária produzida durante o auge da crise da Covid-19 e traz artigos de gente conhecida como Bernardinho, o ministro do STF Luís Roberto Barroso, os jornalistas Fernando Gabeira e Gerson Camarotti, a atriz Fernanda Torres, o economista Gustavo Franco e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Tudo começou na metade de março, quando o mundo estava mais perdido do que está hoje, mais angustiado, porque não conseguia entender e até digerir, era uma situação muito nova. A nossa ideia foi procurar grandes especialistas em vários setores e que têm muita experiência para fazer um estudo do que iria e ainda vai acontecer”, explica o professor José Roberto de Castro Neves, organizador da obra. No meu artigo ‘O que será da do Turismo depois da Covid-19? ’, desenho cenários futuros a partir de fatos, estatísticas, situações e números estabelecidos pela indústria turística mundial até 11 de março deste ano, quando a OMS declarou a pandemia.
Um estudo pré-Covid-19 realizado pela consultoria britânica Oxford Economics, partner da WTTC – Conselho Mundial de Viagens e Turismo revela a importância dos segmentos de viagens e turismo na economia brasileira e mundial. De acordo com o relatório, em 2019 o setor foi responsável por gerar US$ 8,8 trilhões para a economia global; transportou 1,4 bilhão de pessoas pelo mundo; pelo nono ano consecutivo cresceu acima do PIB (Produto Interno Bruto) global: uma alta de 3,5% superior à expansão da economia global (2,5%). Isso o tornou o terceiro maior setor economia mundial em termos de crescimento. O referido estudo mostra ainda que ele contribuiu com 10,3% para o PIB global e gerou 1 em cada quatro 4 de todos os novos postos de trabalho.
No Brasil, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), nos primeiros sete meses de 2019, o faturamento do segmento de turismo e viagens foi de R$ 136,7 bilhões, o maior registrado nos últimos quatro anos. Nesse cenário promissor fomos atingidos em cheio pela pandemia, que não apenas afetou o nosso presente, mas principalmente o nosso futuro. A mesma Oxford Economics previa que em 2028, seguindo o ritmo de crescimento pré-pandemia, o setor de turismo seria responsável por 410 milhões de vagas no mundo, o equivalente a 1 em cada 9 postos de trabalho no ano em questão. Porém, devido ao impacto da crise sanitária no turismo, dificilmente chegaremos a esse patamar.
No Brasil, o cenário também é terrível (mas nunca desanimador): de acordo com o último levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a conta do coronavírus para o Turismo é de quase R$ 183 bilhões. O tombo na atividade turística levou ao fechamento de 446 mil empregos formais – imaginem os informais – e o faturamento real do turismo cairá 37,2% este ano, também de acordo com a CNC e a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE. Em São Paulo, onde dirijo a Secretaria estadual de Turismo, o tombo foi de R$ 65 bilhões, e no Rio R$ 26 bilhões. Mesmo assim, o turismo vem se recuperando mês a mês, com uma alta acumulada de 36,1% em maio, junho e julho, que infelizmente não consegue cobrir ainda a queda de 68,1% em março e abril.
Mesmo com todos esses tons de cinza no cenário turístico, no meu artigo para o livro ‘O mundo pós-pandemia’ deixo uma mensagem otimista: tenho a convicção de que o turismo ressurgirá da crise. Será diferente, mas virá com toda a força e energia já mostradas no curso da história e na resiliência frente a todas as crises que enfrentou. Esta é uma oportunidade para as mudanças que o novo mundo pós-crise exigirá e entre elas as que o turismo necessita e clama. Pois, ademais de ser uma alavanca para a retomada da economia como um todo, penso que não há outro lugar no mundo que disponha das vantagens que têm o Brasil, São Paulo e Santa Catarina. Não estou só nessa certeza; essa também é a opinião de entidades internacionais de turismo e de publicações especializadas.
O Brasil já reúne as pré-condições necessárias para impulsionar o desenvolvimento do turismo em bases sustentáveis e seguras. Não vejo, nesse horizonte, fatores externos que ameacem ou mesmo atrapalhem esta caminhada. Penso que nossos problemas são “made in Brazil”, ligados à forma como pensamos, agimos e atuamos. Mas a boa notícia é que nas grandes crises as resistências às mudanças diminuem e teremos a oportunidade de atacar a questão cultural por trás da auto-sabotagem e da ficção política que nos leva a crer que se pode viver no Brasil dentro dos padrões de vida dos países desenvolvidos, sem nada mudar. Um indicador desta diferença, por exemplo, é a nossa produtividade sistêmica que é um quinto da norte-americana e explica parte do problema que aqui ilustro.
Ao enfrentar o problema da produtividade, em todos os campos, especialmente no turismo, estaremos diante de uma oportunidade de crescimento, que calculo seja mais de 500% quando comparada ao período pré-crise. Situação que quando acontecer, beneficiará os brasileiros de todos os estratos sociais.
Sabemos que o caminho do turismo não está tão aplanado quanto o do agronegócio, estrela de primeira grandeza na economia brasileira. Isso porque o turismo enfrenta enorme dificuldade em ser prioridade na agenda política e encontra resistências na própria intelligentsia brasileira, incluídos aí muitos dos nossos economistas que tratam o turismo como efeito econômico e não como causa. Essas questões enfrentadas com rigor e determinação, tanto na política quanto na inteligência, permitirão que se imponha como estratégia a substituição competitiva de importações no turismo.
Termino marcando a questão estratégica dos nossos parques no novo turismo. Os naturais, com seu esplendor, segurança e benefícios econômicos para as populações locais e os parques temáticos de todo o mundo, que, dentro dos novos padrões sanitários, seriam abrigados em nossos destinos naturais. Esses parques, recebendo os investimentos compatíveis com a demanda de Santa Catarina, São Paulo e do Brasil, abrirão o caminho para a nova economia do turismo, dando espaço para nossas micros e pequenas empresas que ali atuarão.
E, por último, porém não menos importante, não se esquecer dos investimentos bilionários em Resorts Integrados a Cassinos que também virão se soubermos convidar e preparar sua chegada. Investimentos que elevarão as oportunidades para os mundos artístico, cultural, de eventos e congressos para nós brasileiros e para o mundo. Não podemos controlar o mundo, mas podemos fazer nossa própria mudança – e as mudanças em Santa Catarina, São Paulo e no Brasil têm potencial grandioso de melhorar a vida das nossas e das futuras gerações. E no caso do turismo, ainda mais, com alegria.
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