Moro durante a coletiva.

O ministro da Justiça Sérgio Moro, acaba de anunciar que está deixando o cargo no Governo Federal. Ele se mostrou incomodado com a exoneração do diretor da Polícia Federal, Maurício Leite Valeixo, homem de sua confiança.

Vale lembrar que o delegado Valeixo que chefiou a Polícia Federal em Curitiba durante a Lava-Jato, é uma das pessoas mais próximas a Moro, a exemplo da delegada catarinense, Érika Marena.

Bolsonaro perde um de seus principais ministros para defender os filhos e sua ala ideológica, em clara tentativa de interferir nos trabalhos da PF. Questões de visibilidade política também estão em jogo, pois Bolsonaro segue encarando o agora ex-ministro como um de seus possíveis adversários em 2022, a credibilidade de Moro sempre incomodou o presidente.

Moro lamentou que em meio a pandemia do Coronavírus, tenha que tomar a decisão, mas deixou claro que não foi por sua escolha. Deixou claro o seu descontentamento com a falta de autonomia à Polícia Federal e, lembrou que mesmo com os casos de corrupção envolvendo pessoas dos governos do Partido dos Trabalhadores, que não houve interferência no trabalho da PF, o que permitiu a continuidade da Lava-Jato.

Quanto a sua entrada no governo Bolsonaro, Moro negou que tivesse qualquer acordo para ser nomeado ao Supremo Tribunal Federal, mas revelou o seu único acordo, além do compromisso com o combate a corrupção. “A única condição que coloquei que pode ser confirmada pelo presidente e pelo general Heleno, é que se algo me acontecesse, que a minha família não ficaria desamparada e que receberia uma pensão”, relatou.

Fiquem ligados, pois o ministro da Economia, Paulo Guedes, pode ser o próximo, e não adianta a ala ideológica falar em fake news como fizeram ontem. A prova é a saída de Moro, o que mostra que o trabalho da imprensa é sério, o que foi destacado na minha coluna de hoje.

Insistência

Sérgio Moro disse que teve apoio de Jair Bolsonaro, em muitas ações, mas que também não teve em outros. Revelou que desde o ano passado, há uma insistência de Bolsonaro em promover mudanças na Polícia Federal, situação que Moro não concordava.

Quanto a troca do diretor geral, Moro disse que frente a insistência de Bolsonaro, que precisaria de uma causa para concordar com a exoneração. “Não é uma questão do nome. Têm outros bons nomes para assumir o cargo de diretor da Polícia Federal. O grande problema é que seria uma violação de uma promessa que me foi feita de carta branca e, uma interferência política na Polícia Federal”, situação a qual segundo Moro, geraria uma falta de credibilidade.

Moro revelou que Bolsonaro avisou que também quer trocar outros superintendentes, inclusive o do Rio de Janeiro, onde o senador Flávio Bolsonaro (sem partido) está sendo investigado, sem qualquer justificativa.

Sobre ontem

Sérgio Moro disse que ontem em conversa com Bolsonaro, que se tratava de uma interferência política, o que foi confirmado pelo presidente. Moro chegou a sugerir que se Valeixo saísse, que entrasse Disney Rossetti e que fosse uma escolha técnica, porém, que ficou sem resposta.

Moro revelou que Bolsonaro quer alguém que ele tenha um contato pessoal, com quem possa falar, possa ligar e ter acesso a informações de investigações, deixando de forma clara, que o presidente quer interferir nos trabalhos da Polícia Federal, o que não é correto.

Quanto a informação que Valeixo queria sair, Moro disse que não é verdade, desmentindo informações vindas da Presidência da República. Disse que o delegado só começou a falar em sair, quando começou uma forte pressão pela sua saída.

Bolsonaro também revelou segundo Moro, que o presidente tem uma preocupação com o inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal, por isso também quer interferir.

A respeito da exoneração de Valeixo, Moro disse que ficou sabendo pelo Diário Oficial, que não foi informado e que somente houve uma ligação na noite de ontem ao delgado informando de sua exoneração, o que Moro definiu como um gesto ofensivo. “Para mim essa é uma sinalização de que o presidente me quer fora do cargo. Eu até tive outras divergências com o presidente, tive outras convergências, recebi apoio e dei apoio ao presidente em diversas circunstancias, mas não vou aqui falar dessas divergências, isso fica para outra ocasião. De qualquer modo, o meu entendimento é que eu não tinha como aceitar essa substituição e, também tem a minha biografia como juiz de defender o Estado Democrático de Direito”, afirmou, completando: “Então não me senti confortável, tenho que preservar a minha biografia”, disse, destacando que principalmente o compromisso com o combate a corrupção.