É com um sentimento de esperança e também de entusiasmo e responsabilidade por poder estar participando do trabalho do Governo de São Paulo para o combate à Covid-19 e, a imunização do povo brasileiro que abro essa primeira coluna de 2021 no SC em Pauta. Todos nós catarinenses estamos assistindo e fazendo história, a partir do momento em que a nossa Federação dos Municípios foi a primeira do país a assinar, em 10 de dezembro passado, o protocolo para obtenção da Vacina do Butantan – e depois disso o país inteiro pareceu “se mexer” para correr atrás do imunizante. Hoje, quando estados e municípios iniciam de forma célere seus planos de imunização, é preciso registrar que esta é a vitória do trabalho com responsabilidade.

Há meses, sob liderança do Governador João Doria – não devemos esquecer nunca, homem do Turismo — teve início o trabalho de produção de uma vacina para um vírus até então desconhecido — e o que seria feito em anos precisou ser contado em meses. Paralelo a isso, por meio do Plano São Paulo, o Estado veio tomando medidas amargas e necessárias de contenção da evolução da pandemia. No trade e, particularmente, na aviação comercial, há uma frase que poderia ser usada ao exemplificar a importância de tantas frentes de trabalho simultâneas: um avião nunca cai por apenas um motivo.

É isso. Ao evitar a proliferação do vírus no Estado e pelo Brasil, por um lado, ao abrir linhas de crédito, por outro, e ao trabalhar incansavelmente na produção da vacina, São Paulo fez gestão do desconhecido com precisão e responsabilidade. O inverso dos maus exemplos que vieram de Brasília. E foi assim que o avião não caiu.
Com esse sentimento de vitória do povo brasileiro e catarinense tenho a grata satisfação de retomar o tema das últimas colunas de 2021 – que é justamente a história de Santa Catarina, a qual temos percorrido em busca de referências para um novo “plano de vida” catarinense, já que tenho a convicção de que é preciso renovar o sonho sonhado por aqueles que no passado começaram a construir um Estado hoje reconhecido no país e no mundo.
Só para a gente recordar, estávamos em março de 1955, quando o então governador Irineu Bornhausen (1951/56) “realizou a primeira experiência de elaboração de um plano”, segundo uma das fontes a que tenho recorrido, os livros e estudos do pesquisador Alcides Goularti Filho, catarinense de Içara, presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, professor da Universidade do Extremo Sul, a Unesc, historiador reconhecido no país e no exterior.

Apesar de não ter seguido as linhas mestras do POE, o Governo seguinte, de Jorge Lacerda (1956/58) e do vice que o substituiu após a morte num acidente aéreo, Herberto Hülse (1958/61), realizou ações e obras fundamentais para o futuro de Santa Catarina, nas áreas de energia, transportes e educação em todos os níveis. O primeiro plano a ser realmente executado de acordo com sua concepção foi o Plameg, o Plano de Metas do Governo, do Governo Celso Ramos (1961/65), que impulsiona o crescimento, abre um novo sistema de crédito para o setor produtivo, faz investimentos em energia e transporte e a consolida o setor eletro-metal-mecânico, liderado por médias e grandes indústrias. De Norte a Sul e de Leste a Oeste do Estado criam-se as “marcas catarinenses”, que passam a ser reconhecidas em todo país e até no exterior.

Planejar, então, passa a ser a palavra de ordem. O sucessor de Celso Ramos, Ivo Silveira, cria o Plameg II (1966/70) e o sucessor deste, Colombo Salles, implanta o PCD, o Projeto Catarinense de Desenvolvimento (1971/75). Foram priorizados os setores Financeiro, com investimentos via agências de fomento e programas de incentivo; Transporte, para integrar regiões produtoras e mercados nacional e estadual; Energia, ampliando a atuação da Celesc; e Telecomunicações, aumentando a rede de telefonia e linhas. Nesse período também o Estado vê finalmente a BR-101 ser concluída, em 1971, interligando-se com o Norte e o Sul do país. Também foram asfaltadas as BRs 282 e 470, ligando São Miguel do Oeste, na fronteira com a Argentina, ao Porto de Itajaí. Os portos de São Francisco do Sul e Itajaí passam a ser melhor aparelhados – facilitando o acesso aos mercados internacionais.

Nessa época em que os planos de metas davam o mapa do caminho a seguir rumo ao desenvolvimento social e econômico, destacaram-se alguns profissionais e gestores que construíram as bases de ideias para o Estado, como também foram precursores das instituições e empresas que Santa Catarina precisava para crescer. Entre muitos outros – e fora os também já citados anteriormente – vamos mencionar em nome de todos o professor José Artur Boiteux (fundação da UFSC), Glauco Olinger (agricultura), Aury Bodanese (cooperativismo) e o professor Alcides Abreu, um elo entre os integrantes desse grupo de “pensadores” de Santa Catarina. Foram as inspirações deles e de outros planejadores que fizeram surgir a Celesc (Centrais Elétricas/1955), a UFSC (Universidade Federal/1960), o Besc (Banco do Estado) e o BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento Econômico), ambos em 1962, a Udesc (Universidade Estadual/1965), e mais tarde, a Casan (Águas e Saneamento/1970), a Telesc (Telecomunicações) e a Acafe (Associação das Fundações Educacionais), ambas em 1974, e o Badesc (Banco de Desenvolvimento/75).

Todas essas instituições tinham por objetivo não apenas o desenvolvimento do Estado, mas também a sua integração. Um bom exemplo é o da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (Acafe), que no final dos anos 70 e até meados dos anos 80 já reunia 18 instituições universitárias em municípios polo do interior. Ao oferecer ensino superior, a Acafe buscava evitar que uma elite estudantil deixasse suas cidades e regiões para buscar universidades em grandes centros, como ocorria até então. Um papel que foi cumprido à risca – como, aliás, a Acafe cumpre até hoje. E aproveito essa citação à Acafe para fazer referência aos seus três primeiros presidentes – em nome de todos os outros que se seguiram – que também tiveram um papel visionário no “sonho catarinense”. Osvaldo Dela Giustina (Unisul, de 74 a 76), João Nicolau Carvalho (Udesc, 76 a 79) e Lauro Zimmer (Udesc, de 79 a 90). Este último teve papel central no reconhecimento da Udesc, do qual era reitor, em 1990, pelo Ministério da Educação.

Zimmer (1945-2016) tem lugar cativo na galeria dos visionários catarinenses, tendo sido, entre diversos outros exemplos, o autor do primeiro parecer favorável ao Ensino à Distância no país, quando era membro do Conselho Nacional da Educação – e Jorge Bornhausen, que foi governador de 79 a 82, ministro da Educação.
Mas, voltando a meados da década de 70, podemos dizer que é neste momento que temos o auge do “sonho catarinense”, que estava identificado, mapeado – como se fosse um moderno Masterplan – e desenhava o planejamento de rotas estratégicas para o desenvolvimento do nosso Estado. Esse roteiro, seguido e renovado por governos, pelo empreendedor e pelo trabalhador catarinense nos anos seguintes, é o tema da próxima coluna aqui no SC em Pauta.