Vou interromper nesta coluna de fim de ano a série sobre a construção do novo sonho catarinense, que vinha fazendo nas últimas edições, para escrever sobre sonhos mais imediatos e urgentes, prometendo voltar àquele tema tão fundamental para o futuro de SC no início de 2021.

O ano de 2020 termina com um sentimento comum ao redor do planeta: estamos todos cansados, exaustos, esgotados. Desde que a OMS – sigla que agora não precisamos mais identificar, porque passou a fazer parte do nosso dia a dia como dezenas de outros termos médicos e técnicos – declarou a pandemia, em 11 de março, os quase 8 bilhões de habitantes da Terra passaram a viver sob a égide do medo e da tensão permanente, do confisco da liberdade de ir e vir por um vírus invisível e da gigantesca profusão de informações desencontradas, trazendo de volta a bíblica Torre de Babel em que os humanos falavam milhares de línguas diferentes – isso poucos anos depois de termos conseguido chegar a uma linguagem universal chamada “internet”.

Por isso nesta coluna não vou aborrecer você com mais números catastróficos, projeções pessimistas ou otimistas – que aliás, também, passaram a ser parte do cotidiano. Quero sim trazer minhas condolências mais sinceras e uma mensagem de fé e esperança a centenas de milhares de famílias das vítimas da Covid-19, aquelas que tiveram entes que faleceram, aquelas que têm parentes lutando contra a doença e também a todos aqueles que se recuperaram com mais ou menos dificuldade. E ainda aos que não contraíram o coronavírus, porque todos, indistintamente, somos vítimas dele.

E por essa razão eu não poderia, nesta última mensagem de 2020, deixar de homenagear e agradecer os profissionais de Saúde de todo o país e de Santa Catarina pelo trabalho que incansavelmente vêm fazendo para preservar e salvar nossas vidas. Se estamos exaustos, que dirá os profissionais de Saúde. E eles sabem, têm consciência científica, que esse ciclo infernal não se encerrará enquanto não tivermos vacinas suficientes para imunizar a maioria das populações mundo afora.

Por isso, em nome da consciência científica desses profissionais de Saúde, é que rendo agora outra homenagem, esta para uma das mais importantes instituições da Ciência mundial, que nos faz ter orgulho de ser brasileiros, o Instituto Butantan, de São Paulo. Por dever profissional, como secretário de Turismo do Estado paulista, tenho frequentado o Butantan e constatei, até com alguma tristeza, que a grande maioria de nós desconhece essa entidade que completa 119 anos e que produz nada menos do que 75% das vacinas do Brasil e 10% das vacinas do mundo, trabalho que envolve os cerca de 2600 funcionários do Instituto.

Aos que imaginam que uma instituição assim tão conceituada e histórica no cenário científico mundial poderia agora render-se a qualquer pressão política para produzir esta ou aquela vacina, basta dizer que a memória do Butantan está ligada a pandemias, epidemias e surtos – e que nessas 12 décadas a sua marca registrada é a vitória sobre todas essas enfermidades. Portanto, nada mais apropriado do que o slogan da campanha de aniversário dos 119 anos do instituto lançada pelo Governo de São Paulo nesse mês de dezembro: “Se é do Butantan eu confio”.

No momento em que você está lendo essa coluna a fábrica de vacinas do Instituto Butantan está trabalhando. São 24 horas por dia, com 245 profissionais, que receberam mais 120 colegas recém-contratados, e que têm como meta produzir 1 milhão de doses por dia da Coronavac, para que no final de janeiro estejam prontas 40 milhões de doses, que vão se juntar a outras 6 milhões importadas. Cabe destacar que essa fábrica foi visitada por prefeitos e prefeitas catarinenses no dia 10 deste mês, quando o presidente da Federação dos Municípios (Fecam), Paulo Roberto Weiss, assinou o protocolo de intenções para obtenção da Coronavac junto ao diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. A Fecam foi a entidade pioneira no país a abrir esse caminho, que está sendo seguido por cidades e estados brasileiros e até por outros países, como a Argentina.

O Butantan, como toda sua experiência e história, está produzindo esse imunizante entre 214 outros que estão sendo desenvolvidos no planeta, sendo que 52 deles estão sendo testados em humanos e apenas 13 se encontram na terceira e última etapa de testes – como a Coronavac, de acordo com reportagem de Rafael Barifouse, da BBC News Brasil. Mais uma boa notícia é que Governo de São Paulo está construindo uma nova fábrica de vacinas no Butantan, esta como capacidade para 100 milhões de doses, em parceria com a iniciativa privada, via Comitê Empresarial Solidário e Econômico, num investimento de R$ 160 milhões do total de R$ 2 bilhões que essa entidade de empresários colocou à disposição do Governo paulista para o enfrentamento da Covid-19 em 2020.

Depois dessa aula de brasilidade e esperança que o Butantan nos proporciona, só me resta desejar aos brasileiros de Santa Catarina um Natal com todos os protocolos – máscara, álcool gel e distanciamento social – e um 2021 com vacinas suficientes para conter o coronavírus e nos devolver a mais plena liberdade e alegria de viver.

Informo aos leitores que farei uma breve pausa na coluna para as festas de fim de ano e vou retornar no início da segunda semana de janeiro. Até lá.